orfose.

Capítulo 1

Confusão, quero mudar mas não sei como.

Sempre que vou dormir, me voltam todas as sensações que tive ao longo do  dia, coisas boas, ruins, enfim, tudo. Inclusive penso no Enzo, o que não deveria acontecer mais, qual é ? Agora eu já fiz 17 anos, não tenho mais 15, quando eu ficava suspirando por ele, agora eu mudei, oras! Ou quero mudar... Ahh, bateu o sono aqui, amanha acordo cedo e...Boa noite !
Priiiiiiiiiin!!!
 - Sophia, acorda filha, não tá vendo o relógio despertar?
 - Ahh mãe, me deixa chegar no próximo horário, nem é nada importante, é só física...é física meu Deus, hoje tem laboratório! Mãe, tenho que voar! – Quando lembrei que era laboratório de física fiquei desesperada.
 - Você não vai comer nada? Ei volta aqui, isso não faz bem...
Na escola...
A escola é legal, fora as exatas que eu tenho medo de perder, o restante é tranquilo, minha turma é relativamente legal, é igualzinha a toda turma de terceiro ano, todo mundo se matando pra passar de ano rápido, se matando de estudar pro vestibular, e mesmo com isso tudo curtindo muito o último ano na escola.
Eu tenho dois amigos, o Roni e a Duda, e olha a Duda chegando, só foi falar nela que...
 - Eu realmente pensei que você não viria hoje. – Disse Duda.
 - É, eu quase ia esquecendo do laboratório, e é melhor irmos logo, porque já deve tá começando!
O laboratório foi igual, só mudam os experimentos, mas aquela coisa forçando a sua mente para saber como aconteceu aquilo, falando fisicamente é claro, isso é sempre igualzinho. Eu fico no canto observando, eu sempre imagino uma coisa diferente, eu construo minhas teses sobre aquilo, mas no fim não é nada do que imaginei. Eu nunca serei uma física. Ou estou muito a frente de tudo isso. (o que é difícil de acreditar, olhando para minhas notas medíocres).
Como já era esperado, o laboratório foi a única coisa que me preocupou hoje, mas o restante das aulas não foram muito legais, a professora de matemática começou a resolver a lista de exercícios... Biologia foi a menos pior !
É que as disciplinas que eu gosto mesmo são português, (aqueles romances, autores, escrever, aprender a escrever corretamente, aprender regras...) , história (saber como aconteceu as coisas, o porque que elas são assim hoje..) e sociologia eu também me divertia, aliás, tudo o que não tivesse um resultado exato e que me deixasse pensar e elaborar minhas próprias análises... Tudo o que me dava essa liberdade eu curtia.
O fim do dia chegou  e como sempre, o Roni nos apressando...
- Vamos logo, a tia do sorvete está lá fora, aquele sorvete com salada de frutas é o melhor do mundo!
 - Eu ainda não consigo calcular o quanto você é criança Roni – Disse Duda, dando gargalhadas.
 - Vamos, que hoje eu também to afim do sorvete, está um calor terrível! – Eu já estava derretendo.
O que eu não imaginava era que o Enzo estaria bem na frente da escola, da minha escola! E eu estava desarrumada, sem nem um batom pra contar história, eu estava horrível, aliás, como sempre ao fim do dia.
- Duda, eu não acredito que ali é... Eu estou horrível, acho que vou me esconder. – Falei sem acreditar que isso estava acontecendo comigo.
 - Nem eu amiga, mas calma, ninguém é lindo na saída da escola, ainda mais nesse calor. – Duda tentou me confortar.
 - Com exceção da menina que veio com ele não é... Acho que vou oferecer um sorvete pra ela, não é namorada dele mesmo. No face dele consta solteiro! – Disse Roni.
 - Cala a boca seu idiota! – Gritamos.
Pensando bem decidi, eu não vou me esconder, afinal quem é ele pra mim? Ninguém. (Eu tentava me convencer), ele é apenas um vizinho que mora na mesmo rua que eu (sorte que não estuda na mesma escola), eu o conheço há mais ou menos 4 anos e sou apaixonada desde que o vi pela primeira vez, aliás, eu era apaixonada. Eu não sou mais aquela garotinha de antes e não irei me esconder mesmo.
 - Duda, não vamos nos esconder, se ele me ver arrumada ou não, pouco   importa agora, e Roni, vai lá e pergunta se ela tem namorado, sonda pra ver se ela tá ficando com ele mesmo... – Falei baixinho.
 - Você acabou de dizer que ele pouco importa e já quer saber se a garota é    ficante dele?  Se decida tá! – Disse Roni.
 - É só por curiosidade pow... Disfarcei.
 - Tá, sei... Vai Roni, eu também quero saber  – Disse Duda rindo.
 - Tá, o Dom Ruan entra em ação e irá conquistar mais uma! – Disse Roni se achando.
  - Eu realmente tenho pena dele... – Tive que comentar.
O que eu não imaginava, é que enquanto o Roni iria atacar a “amiguinha” do Enzo, ele viria falar com a gente. Sim, eu falei que não ia me esconder, mas gelei, tremi, não sei o que acontecia, quando eu sentia que ele estava chegando perto eu pirava.

Capítulo 2

Quanto mais aproximação, mais dúvidas.

- Você só sai de casa para vir a escola Sosô ? –  disse ele me zoando.
- Gz’ E você vem aqui pra me  zoar? – falei irritada, afinal ele sabe que detesto esse apelidinho idiota.
- Sosô ? Não conhecia essa ... – Duda falou curiosa.
- Era um apelido que eu tinha quando criança, minha avó costumava me chamar assim, e como a gente ficava brincando lá na rua, esse aí escutou e implica até hoje, insiste em lembrar  e me fazer passar vergonha– Se eu não contasse logo a Duda iria me infernizar.
Mesmo eu explicando o caso seriamente, a Duda disparou a rir de mim, acho que quanto mais eu ficava brava, mais ela achava graça. Depois de  bastante chacota ela resolveu fazer algo pior.
- Eu tenho que ir ali contar isso pro Roni, amiga me perdoe mas somos um trio, não podemos esconder a resenha.
- Então olhei para ela  furiosa, até porque eu sabia que o Roni iria zoar até o fim da minha vida. O que deu ainda mais satisfação ao Enzo.
- Mas e aí, veio aqui só para me infernizar, ou mais alguma coisa? – Confesso que eu estava curiosa .
- Vim aqui lhe ver, você que não acredita. – Eu detestava quando ele me olhava assim  fazendo gracinha. Na verdade, eu tinha medo de acreditar em tudo o que me dizia.
- hahaha, claro. – Falei ironicamente.
- Mas fora isso... Estou ficando com uma garota que vai estudar aqui, então resolvi  fazer uma visitinha com ela,  e olha ela vindo ali. – Ele falou na maior cara de pau.
-  Enzo, vai agora? 
- Não, essa aqui é minha vizinha, acho que vou com ela.
- Ahh, oi. – Disse ela por educação apenas
-Oi. – Respondi da mesma forma.
- Então thau. – Sentir que ela falou chateada.
- Por quê não foi com ela? – Era sempre assim, ele aparecia e me deixava cheia de dúvidas sobre sua personalidade.
- Porque não quis, tudo demais  enjoa. – Nem acreditei que ele falou com tanta naturalidade.
- enjoa? – Indaguei.
- Sim Sophia, você não aprende não é? Eu to ficando com ela, não caindo de amores. – Melhor que isso para mim, só se eles não estivessem ficando. E para a minha sorte ou azar, Roni e Duda estavam voltando, já era hora de irmos para casa. Mas nesse intervalo de tempo em que eles se aproximavam o Enzo perguntou:
- Você fica com alguém por aqui? Ou namora? Ou flerta? – Gelei. Eu não queria inventar nada, mas também não queria parecer uma encalhada.
-  Apesar de não ser da sua conta, tem um carinha daqui que me curte, mas ainda não rolou nada e abafa o assunto que estão chegando. – Menti parcialmente, afinal tem mesmo um menino que fica me olhando no intervalo, mas só isso mesmo, nunca nem falei com ele.
- Vamos Sosô. – Disse Roni dando a entender que já estava por dentro da resenha.
- Vamos. – Falei séria, e seguimos até ao ponto de ônibus, por azar, o meu foi o ultimo a passar, ficamos sozinhos, já que Roni e Duda tinham destino diferentes.
- Sosô, porque você nunca sai na rua? Às vezes a galera fica lá ainda. – Disse o Enzo.
- Tenho coisas para estudar e não me sinto mais a vontade ali sabe... – Dessa vez, fui totalmente sincera.
- Todo mundo tem coisas para estudar, mas ninguém se isola tá? Por isso que não se sente mais a vontade, porque desacostumou. Mas falando de outra coisa, preciso de uma opinião sua. – Fiquei preocupada, ele falou sério.
- Opinião? Desde quando você me pede opinião? Mas fala. – Fiquei mil vezes mais preocupada.
- É que... Estou pensando em ficar com a Mi, ela ta me dando mole saka? Mas por outro lado... a conheço a tanto tempo, fico com receio de estragar a amizade, até porque não é amor, nem aquela coisa toda.
Nesse momento uma tristeza me tomou, a Mi era uma das meninas que ficava brincando conosco  lá na rua quando criança. Eu não estava nem triste por ele querer ficar com ela, a sensação era de que ele tinha olhos para todas, menos pra mim.
- Ahh a Mi, claro... Ela é linda, e se ta dando a entender que te quer  não vejo porque esse receio.  Ninguém  é mais criança para estragar uma amizade por qualquer bobagem que possa acontecer.  – Fui firme, me segurei.
- Tem razão. Aliás você sempre  ta certa. Acho que foi isso que conquistou uma certa pessoa... – Disse todo misterioso.
- Certa pessoa? Conquistei? Quem? – Dessa vez eu pirei.


Capítulo 3
Pra mim já deu
Por um momento confesso, achei que fosse ele, e por motivo de vergonha, para não dá o braço a torcer, ele queria fazer mistério.  Depois pus os pés no chão, afinal ele acabou de me dizer que quer ficar com a Mi. Hoje foi um dia muito importante para mim, sabe aquela coisa de só ficar junto da pessoa que a gente ama e caso não seja correspondido ficar sozinha para sempre? Pois é, ali naquele ponto de ônibus, o Enzo me convenceu que isso não existe, ao menos para quem nunca viveu uma história com a outra pessoa, e se existe não faz bem,  nunca me fez bem até hoje, agora decidi, vou gostar de quem gosta de mim. Pensei  tudo isso enquanto ele me falava dessa tal pessoa que me admirava, ele fazia tanto suspense...
- Ali, o ônibus chegou, vamos, lá eu conto. – Disse ele se divertindo por estar prolongando a minha curiosidade.
Entramos no ônibus.
- Tá agora diz quem é esse ? Se é que ele existe mesmo... – Falei para dar a certeza de que se fosse mais uma de suas gracinhas, não iria funcionar.
- É o Marcos. – Ele foi direto dessa vez.
- O quê? O Marcos? – Nem acreditei, eu realmente não esperava, o Marcos é o primo do Enzo, que todo o fim de semana o visita. Conhecemos-nos num dos aniversários do Enzo, mas nunca trocamos muitas palavras, além dos cumprimentos por educação.
- Sim, ele. Eu também achei estranho, nunca vi você conversando com ele ou algo do tipo... Mas já flagrei ele vendo tuas fotos  do face várias vezes. - Disse ele meio indiferente.
- Nossa... – Eu ainda estava assustada.
- E agora? O que você vai fazer? – Ele perguntou curioso.
- Nada, vou digerir isso, eu realmente não imaginava...  – Falei.
- Ele tem alguma chance? Na verdade é estranho eu lhe perguntar isso...  – Ele falou encabulado.
- Estranho? Por quê? – Eu me sentia tão mal quando isso acontecia, parecia que para ele eu não era mulher, que eu não servia. Na verdade eu me sentia pior do que todas aquelas meninas que ele se interessava.
- Ahh, porque você não namora. Você é especial demais para alguém, é estudiosa, certinha é... – Sim, ele estava querendo me agradar.
- Não completa, não quero saber o que acha de mim. Não me faz bem, eu sou responsável, mas não deixo de ser como qualquer outra garota. – Falei tão brava.
- Calma, também não precisa ficar assim, eu queria fazer  um elogio... – Acho que nesse momento ele ficou assustado por me ver tão chateada.
- Já estou calma, mas desde quando alguém lhe dizer que você, no auge dos seus 17 anos não namora ninguém é elogio? – Falei séria.
- Descuuuulpa, só quis dizer a imagem que você passa para mim, acho que pode ser também porque não converso contigo a algum tempo. Mas para te deixar mais alegre, te farei um convite. – É, ele se sentiu culpado, e eu estava adorando aquela situação.
- Convite? – Sim, eu estava amando essa situação, por um minuto tantas possibilidades me passaram pela mente... O que seria esse convite? Me enchi de esperanças.
- Sim, quero lhe convidar para o meu aniversário, vou fazer uma festa, quero ver a mocinha que está no auge dos seus 17 anos dormindo tarde, dançando, quero também que entregue o convite do Roni e da Duda, porque  esqueci de entregar,  na verdade, fiquei sem graça porque não sou muito intimo deles. – Disse ele empolgado.
- Dançar já é forçar demais não é? Pode deixar que  entrego os convites, enfim chegamos! Vou adiantar aqui, tenho um questionário de história pra fazer... – Eu imaginei que finalmente ele poderia estar me vendo com outros olhos, mas nada. Nesse momento desisti dele, desisti de verdade, eu só queria fugir dali o mais rápido possível, sofrer sozinha, chorar, desabafar, mas sozinha, ou com meus amigos, não quero que ele sinta pena de mim, ou passar de menina frágil, por mais que eu seja.
Cheguei em casa, mandei um sms para a Duda e pro Roni.
“Gente, dá para vocês virem até aqui, to precisando de vocês”.
Enquanto eles não chegavam eu tentava fazer meu questionário, mas para me concentrar estava dureza.
Quando chegaram eu fui direta, comecei a contar tudo, falei que eu estava arrasada, e perguntei.
- Gente, qual o meu estilo? Que tipo de garota eu sou? Eu não sou interessante? O que eu tenho de errado? – Na realidade eu já tinha feito essas perguntas para mim mesma, mas dessa vez, não consegui me conter, eu precisava desabafar.
-  Você é chata, é abusada, é uma carniça, também não é tão feia, e é gente boa, ás vezes, quando me dar seu lanche. Em minha opinião ou ele é gay, lá no fundo, ou é muito lerdo, mas muito lerdo. Roni foi totalmente sincero.
- Cada vez que eu lhe ouço, eu tenho mais certeza de que você é um idiota Roni, não está vendo que ela não tá bem? – Duda ficou irritada, mas no fim, quem ligava para as bobagens do Roni?
-  Eu fui sincero e ainda elogiei, vocês reclamam de tudo, rebanho de enjoadas, negocio de muito mimimi. – Disse Roni.
- Tá vamos focar na Duda. Amiga, deixa eu te descrever  fisicamente primeiro e você vai ver as besteiras que está dizendo. Você é branquinha, mas não tão branca, tem esse cabelo enroladinho preto, olhos castanhos, boca vermelhinha, nem muito alta, nem baixinha seu estilo é romântico, meio misturado,  vestidos, com pulseiras, anéis e gloss, um lápis de olhos bem fraco e mais nada de maquiagem. E o mais importante de tudo, você é legal, você é estudiosa, é engraçada, sim, é muito sensível ás vezes, mas... Você é a melhor amiga do mundo. – Nunca ouvi algo tão bonito sabe, Duda sabia mesmo como me colocar para cima, apesar de eu saber que não era bem assim. Desde quando ter cabelo enrolado é bom? Olhos castanhos?
Eu bem que poderia ter um cabelo liso e olhos verdes. E minhas qualidades então... Mesmo tudo isso sendo verdade, existem defeitos, eu sou tão insegura, tão medrosa, que ás vezes penso que se nascer fosse uma escolha minha, eu recusaria, porque encarar esse mundo não tá fácil, é, não tá fácil pra ninguém. Mas mesmo sabendo de tudo isso, escutei as palavras da minha amiga e decidi dar a volta por cima.
- Já decidi.  Irei mostrar que sou uma garota de atitude. Duda, vamos amanhã comprar uma roupa bem linda, eu quero estar bem bonita, e Roni, você tem uma semana para me transformar em uma mulher descolada e de atitude, quero que essa menina chata suma.
O aniversário dele  já era semana que vem eu decidir mudar. Não irei ficar chorando, nem minha meta é seduzir ele. Não, dele desisti, já disse. Irei lá para conquistar qualquer um que não seja ele, e vou para arrasar, não é assim que ele faz comigo? Olha para todas menos pra mim? Então, ele vai provar do próprio veneno. E isso vai começar nessa festa, estou louca  pra que chegue logo.

Capítulo 4
Fomos às compras.

Era sábado, combinei com a Duda de ir comprar uma roupa bacana, o Roni também viria conosco pra variar, mas desta vez ele seria útil, porque me ajudaria na escolha de uma roupa mais ousada. Não vulgar, ousada.
Encontramos-nos no ponto de ônibus. Quando cheguei no ponto a Duda já estava lá, cabelo castanho claro escorrido,  olhos pretos graúdos, cílios grandes, blusa de alça, saia rosa e brinco dourado, essas características eram totalmente familiares, era a Duda.
- Me atrasei? – Perguntei, até porque eu sair de casa no horário certo, não vi como eu poderia ter me atrasado.
-Não, eu é que costumo chegar sempre 5 minutos antes, caso haja algum imprevisto.
Eu dei uma gargalhada e disse:
- E se por acaso houver um imprevisto você irá resolver em 5 minutos?!
   Você é pirada!
Ela ficou rindo comigo de suas manias loucas, até que nos demos conta de que o Roni estava atrasado.
- Afz, depois não quer que a gente o deixe de fora!
Disse Duda já impaciente.
- Olha ele vindo ali, e o ônibus!
A gente não poderia perder esse ônibus, o próximo iria demorar bastante.
- Corre Roni, o ônibus!
Então, nosso ônibus parou, e ele veio correndo feito um louco, não há preço que pague essa cena, foi o mico perfeito pelo atraso.
Finalmente conseguimos os três entrar no ônibus, a viajem também foi tranquila, compramos chicletes, balas, amendoim torrado, enfim, tudo o que o Roni via, o olho grande queria comprar.
Enfim chegamos.
- Para onde vamos primeiro? Compramos a roupa ou lanchamos? - Disse a Duda.
- Compramos, afinal foi tanto doce no caminho... – Dei a resposta.
- Eu preferia lanchar... – Roni falou achando que nós iríamos levar a opinião dele em conta, o que não poderia acontecer porque ele é um guloso.
O shopping era grande, fomos olhando de loja em loja, experimentei roupas de três lojas diferentes, mas não gostei. Mesmo eu querendo mudar, ficar mais ousada, eu não poderia perder a minha essência por ninguém, deve ser um look que eu curta também, que eu me sinta bem. Mas finalmente achamos uma loja que era super minha cara. Escolhi 3 vestidos (sim, eu sou louca por vestidos e salto alto) e fui experimentar.
Fui experimentando enquanto Roni, Duda, e a vendedora palpitavam, tudo normal, até que a tal vendedora disse:
- Eu queria ter um amigo assim, disposto a até me ajudar a escolher roupa...
A moça falou olhando para o Roni, deu vontade de rir, mas me segurei, pena que a Duda não. Parecia que a coitada estava achando o Roni super cavalheiro e interessante, coitada.
E ele? Ele estava adorando, quanto mais ela elogiava, mais ele era atencioso conosco, disse até que pagaria o nosso lanche. Eu estava louca para sair daquele lugar e poder tirar um sarro da cara dele.
- Pronto, escolhi este.
- Ótima escolha. - Disse a vendedora, mas convenhamos que qualquer outra escolha que eu fizesse, ela diria a mesma coisa.
- Eu preferia aquele rosa. – Falou Duda, que escolhe tudo sempre rosa, laranja, amarelo, cores pra cima demais pro meu gosto.
- Nada, vermelho ficou perfeito. – Disse o Roni.
Eu estava mais para escolher o preto, era mais a minha cara, mas eles falaram que é básico demais, então optei pelo vermelho, que era melhor que rosa.
Enquanto eu pagava, acompanhada pela Duda, observava o Roni flertando com a vendedora, cutuquei a Duda, ela também ficou abismada olhando com atenção.
Quando terminamos, eles se despediram.
- Tchau, então depois a gente se fala. – Disse o Roni parecendo gente.
- Tá certo, thau meninas e voltem viu! – Disse ela empolgada.
Ao sairmos, tive que comentar...
- Estou tão orgulhosa, alguém finalmente tá na sua Roni! – Não dava para perder a oportunidade de zuar.
- A gente deveria publicar este fato no jornal da escola, isso é um verdadeiro milagre! – Duda era sempre pior do que eu na hora dos comentários.
- Ahh claro... Ela tá na minha, parece uma garota legal, gostei daquela boca, é um ano mais velha, mas não tem problema, vamos ver se rola, se não rolar, de boa, vocês sabem que eu pego, mas não me apego.
 Por isso que Deus não dá asa a cobra, ele já estava se achando porque uma garota estava afim dele.
- Cuidado que você pode se apaixonar, fique brincando com essa de pego, mas não me apego, isso nem sempre funciona. – Alertei ao metido.
Enfim eu tinha comprado a minha roupa, era um vestido lindo, vermelho, nem muito colado, nem curto,mas me deixava bonita, e o principal, era super diferente do que eu costumava usar, agora só falta eu aprender a me comportar como uma garota decidida, meus amigos novamente irão me ajudar, amanhã depois da escola, minhas aulas de sedução irão começar, vai ser louco, eu sei, quando os professores em questão são a Duda e o Roni sempre é louco, mas eu estou preparada para correr o risco.

   Capítulo 5
Festinha interna e Inesquecível.

O dia seguinte foi entediante, é horrível quando você está esperando muito uma coisa, mas antes deve cumprir uma série de protocolos, tais como acordar cedo, ir à escola, fazer as tarefas, enfim, tudo o que tive de fazer antes do meu esperado treinamento de como me comportar sem parecer uma nerd chata.
Combinei com a Duda e o Roni de almoçarem lá em casa, pois quanto mais cedo começasse o treinamento, melhor seria, o tempo era curto, faltavam dias para esse aniversário e eu não tinha ideia de como agir.
- Tá, pra começar vamos ver apostura. Entre no quarto como se estivesse chegando na festa. - Disse Roni, decidido a me ajudar.
Fui um fracasso, normalmente eu ando olhando para o chão, meio despojada, sempre pegando no cabelo, Roni estava me ajudando muito, mas também não escondia suas críticas e nem as usava sutilmente.
-Nossa, está horrível. - Como vocês perceberam, Roni foi nada sutil.
- É, mas gostei da arrumada no cabelo, dá um charme, teu cabelo é lindo. - Disse Duda, como sempre, tentando reparar as palavras do Roni.
- Valeu Roni, eu sabia que meu jeito de andar não era de modelo, mas também não precisa acabar comigo, e a coisa do cabelo já é mania mesmo Duda, já que o vento desmancha tudo o que eu faço, eu tento deixar solto, leve, mas fico verificando se não está cheio ou despenteado.
- Cara, tenta olhar para frente. E rebola um pouco, caraca, toda mulher rebola, menos vocês, e a parada de mexer no cabelo deixa, é bonitinho, não tem jeito mesmo, é mania. -Roni deu as coordenadas.
- ok, tentarei novamente, mas a parte de rebolar esqueça, eu vou mudar, mas ainda continuará sendo eu.- Respondi decidida, rebolar é demais para mim não é?!
 Entrei olhando para frente, não olhei para o chão nem uma vez sequer, coluna reta tudo certinho.
- E aí? Perguntei aflita. - porque se assim não ficou bom, não poderia ter mais jeito, afinal fiz direitinho, cabeça erguida.
- Tá quase, o olhar, seu olhar diz, tá escrito, insegura. Olhe firme para as pessoas, olhar de decidida, de mulher. - Nunca pensei que Roni fosse tão exigente.
- e quem disse que toda mulher é decidida?- Perguntou Duda certíssima.
- Podem não ser, mas essa é a imagem que ela quer passar,não é?
- É, vou tentar melhorar. - Aceitei bem os argumentos do Roni, era mesmo isso que eu queria.
Entrei novamente.
- Perfeito - disse a Duda.
- Bem, só é treinar, que no aspecto postura você não passa mais vergonha - disse Roni.
- Gente e como ela vai cumprimentar ele quando chegar? - perguntou a Duda.
- Ahh, eu já pensei nisso, que tal “oi, eu disse que vinha não foi? Pois bem, estou aqui, afinal eu não podia perder sua festa, nem deixar de te dar um abraço, parabéns”.
- Com as palavras você é boa. Eu não tenho faço resalva.  – Disse Roni.
-É também achei muito bom, não é muito intimo, nem muito fechado. Mas você precisa falar olhando nos olhos dele, da um clima.  – Disse Duda, e eu gostei por ter acertado, afinal em alguma coisa eu tenho que ser boa.
- eu não quero ficar com ele.  – Pela vigésima vez eu repetindo essa mesma frase.
- mas quer impressionar. -Duda falou com um ar de "eu sei bem o que você quer".
- Gente, ela já comprou roupa nova, já sabe o que vai falar, como andar, falta mais alguma coisa? - Perguntou Duda.
- Falta dançar. - Aposto que Roni queria me deixar em pânico quando disse isto.
- Dançar? Enlouqueceu foi? Você sabe que eu não sei dançar. - Fiquei com medo porque se eu tivesse que dançar, ao invés de impressionar eu iria afasta-lo, aliás afastar todo mundo de mim, ninguém quer acompanhar uma garota pagando o maior mico.
- Sophia, essa vai ser a maior cartada, você nunca dançaria, você quer impressionar não quer? Então impressione, porque por mais que a roupa ajude, o jeito de andar, você deve realmente chocar, ele precisa sofrer esse choque para enxergar como mulher. - Duda sabia que eu estava com medo, mas ela também sabia como ninguém o meu objetivo em tudo isso,  e deixava bem claro em suas palavras.
- Ai meu Deus, vocês estão certos, acho que vou desistir... - Eu não quero que ninguém fique rindo de mim.
- Duda, para né véi , o Roni é assim desse jeito, e vive, e tem até gente que se sente atraída por ele, então, não desiste, sem cabimento. - Na boa, a Duda realmente queria provocar falando isto.
- Tá legal lindona, quantos namorados você já teve, e quantos caras aos teus pés você tem? - Roni nunca, mais nunca deixa barato.
- Gente, o caso é sério... - Eu estava muito aflita.
- Sério digo eu Sophia, você vai dançar, senão esquece esse papo de impressionar. - Roni foi realista.
- Acho que irei ensaiar, se eu me sentir segura lá na hora, eu danço, senão eu esqueço isso, e pronto. - Mesmo com medo, mas eu sei que deveria tentar,  ao menos procurar aprender.
Então Duda colocou uma das músicas do summer eletrohits para tocar no meu pc e disse:
- O estilo de música será este, vou colocar alguns vídeos também.
- Véi, como você não sabe, e não quer escandalizar, não é muita coisa, só tira os pés do chão um pouco, mexe o corpo, sempre sorrindo, o charme é o sorriso sacou? Mostre que você está se sentindo bem ali, que está dançando porque gosta, sem preocupações, sem forçar a barra.
- Huum, saquei, mostra o vídeo Duda, vamos ver um pouco e depois eu vou tentar.
Vimos na média 7 vídeos, e eu ainda não sabia o que fazer, mas eu já gostaria de tentar, acho que seria um bom começo.
- Ahh Sophia, chega de vídeos, tenta, quero muito rir disso. - Roni queria mesmo me zuar.
- Está bem, põe a música Duda, e deixa o vídeo que ainda estou me baseando. - Eu estava ciente que iria haver zuação, mas ao menos estava entre amigos, se não for na frente deles vai ser na frente de quem?
Comecei movendo os pés, para o lado e para outro, um pouco também com os ombros, e muito tensa.
- Pera, pera, pera, menina, não é um velório ou exercito, parece que você está com medo, se solta mais, é para soltar os ombros, e os passinhos com os pés não precisam estar certinhos, é balada, ninguém está prestando atenção nos pés de ninguém, por favor né amiga. - A Duda acaba comigo com menos frequência que o Roni, mas também, quando acaba não é pouco, desta vez não foi diferente.
O Roni não se pronunciou, também né, a Duda disse tudo.
- Tá bom, mas calma , foi só a primeira tentativa. - Quase pedi penico.
Então lá fui eu tentar mais uma vez.
Basicamente fiz a mesma coisa, porém  tentei ser mais leve e despojada.
- Para a música aí, cara, até melhorou, mas falta alegria, tipo aquela parada que eu disse, gostar de estar ali. Mas acho que já sei, vamos fazer a nossa própria festa essa tarde, nos divertir de verdade e dançar, acho que isso vai te ajudar. - Disse o Roni e eu achei a ideia dele muito boa.
- Claro Roni, até que você hoje está menos pior, vou logo colocar a nossa música de infância favorita Sophia! - Duda ficou eufórica.
- Ahh não! Miley Cyrus, Party In The USA, tão de brincadeira né? - Roni estava pedindo para desmaiar!
Quando a música começou a tocar, não resisti, peguei o meu perfume, como um suposto microfone e pronto, fala sério, a quanto tempo eu não escutava esta música? A Duda fez o mesmo, e o Roni... Bom o Roni primeiro ficou olhando, nos chamando de retardadas, mas depois começou a fazer palhaçada também, não pensei que tão pouco poderia me divertir tanto. Daí só andou para pior, sabe todas aquelas coisas que a gente ouvia na infância? Tipo Rouge, Sandy e Junior, Floribella, RBD... Caramba, até RBD nós fomos hoje, eu era a Mia, a Duda a Roberta e o Roni o Geovani, se bem que ele não queria ser o Geovani, mas preferiu, porque ninguém queria ser par romântico. Enfim, foi uma das melhores tardes da minha vida!
- Sophia, você reparou que você dançou? - É verdade, só que eu nem estava pensando mais no treinamento.
- É, foi meio ridículo, mas, é só se controlar um pouco que tá perfeito, e você estava se divertindo, sorrindo, se ligou? Esse é o principal. - Fiquei mais aliviada, e finalmente eu entendi o que eu realmente deveria fazer, me divertir oras!
- Entendi gente... Depois vou experimentar dançar mais, só que me controlando né! - Eu ainda estava cansada e rindo, foi muito bom!
Agora só me restava ensaiar mais, preparar meu psicológico para perder um pouco a timidez e me jogar, o frio na barriga já estava batendo, não faltam muitos dias para a festa, como será que irei me sair?

Capítulo 6 - A festa

Enfim chegou o fim de semana e eu não sabia se isso era motivo de alegria ou desespero, se bem que mesmo estando um pouco insegura, a sensação de que chegou a hora era boa, prefiro que seja logo, sou muito ansiosa, mesmo que nada saia como planejei, me sentirei melhor depois.
Refleti um pouco, coloquei as minhas músicas preferidas no PC e fui me arrumar, combinei de rachar um táxi com Duda e Roni, e também combinamos de ninguém se atrasar. Tomei um banho gostoso, passei meu hidratante corporal mais cheiroso, me vesti, penteei o cabelo, coloquei uma passadeira nele com uma borboleta prateada linda, escovei os dentes, usei enxaguante bucal, me maquiei, passei desodorante, perfume e calcei o sapato, acabei!
Agora estou pronta, fui na sala e a minha mãe quase pirou.
- Nossa como está linda filha, espera, vou pegar a câmera, tirar uma foto e mandar para o teu pai. – Ainda bem que mais ninguém estava ouvindo isso.
Meu pai estava viajando, alguma coisa a trabalho, mas mantinha o contato todos os dias.
- Ahh mãe, para né, vai me atrasar. – Mesmo falando isso eu sabia que ela iria tirar a foto de qualquer forma.
Quando o taxi chegou a Duda e Roni já estavam lá dentro, me despedi da minha mãe e entrei, estávamos nervosos, festas, pessoas, isso tudo não fazia parte da nossa rotina. Percebendo isso, a Duda mexeu um minutinho no celular e colocou uma música para tocar, e adivinha qual foi? Então, foi gangnam style, nossa! Por essa eu não esperava, nem o Roni esperava, pouco tempo depois a gente estava dançando a toda a coreografia de Psy, nem percebemos que estava chagando, e depois tomamos um susto com as palavras do taxista:
- O endereço do convite é este, chegaram.
Gelamos e seguimos até a festa.
Parecia estar tudo rodando quando cheguei, luzes e pessoas, algumas conhecidas, outras não, o Roni estava surpreendente, ficou até bonitinho, de camisa polo verde combinando com seus olhos, calça jeans e tênis, seu cabelo era crespo, pele morena clara, o Roni parecia uma mistura de negro com imigrante europeu, e as meninas raramente resistiam a suas investidas, mesmo ele sendo infantil e bobo, só quem realmente o conhecia éramos nós, eu e Duda, e os pais dele, eu acho.
A Duda estava linda, com uma camiseta regata dourada e uma saia preta cintura alta, além da sapatilha também dourada combinando com a camiseta é claro.
E eu com o vestido vermelho, um salto alto preto e a minha tiara prata de borboleta.
Chagamos com toda a classe, o Roni no meio e eu e a Duda de cada lado dele. Assim que adentramos na sala de festas todos ao nosso alcance nos olharam, não sei se era porque eu estava diferente ou se achavam estranho o Roni sendo acompanhado por duas garotas relativamente bonitinhas. Fiquei extremamente envergonhada, mas pela primeira vez fiz questão que ninguém percebesse isso.
Enquanto eu estava distraída tentando disfarçar os olhares de todos, o Enzo se aproximava, ele estava lindo, com um casaco branco, se destacando na sua pele negra, combinando com seus olhos e com seu cabelo negro arrepiado, junto ao casaco uma calça jeans preta e um tênis branco. Ele se aproximava com um sorriso lindo, o mais lindo que já vi em toda a minha vida.
- Nossa, o trio chegou arrebentando!
- Como sempre. – o Roni não deixava passar um momento de mostrar o quanto ele era convencido.
- Só não entendi o motivo de tantos olhares vindos a nossa direção. – Mesmo sem querer parecer insegura tive que comentar.
  -  As pessoas são curiosas, olham para tudo fora do comum, você está diferente Sophia, e se brincar você e Duda são as mais bonitas da festa.
Então se aproximou uma prima que o Enzo se envolvia nas horas vagas, com um vestido curto, colado, lilás e um salto plataforma prateado, loira de olhos azuis. O que foi o bastante para a Duda dizer:
- Mais bonitas? Só que não.
Eu que não queria bancar a boba, sair dali antes mesmo que a garota chegasse até nós, fui em direção ao Marcos, o primo do Enzo que era meio afim de mim.
- Oi Sophia!
- Oi Marcos – Dá vergonha quando estamos falando com alguém que gostamos, ou que sabemos que gosta da gente...
- Fiquei com vergonha quando te vi.
- Por quê? O que te fiz?- Pensei que ele já tinha descoberto que eu já sabia da quedinha dele por mim.
- Vocês estão tão arrumados, bonitos, e eu aqui!
- Quê isso, você estar super bem, e de vez em quando temos que mudar um pouco não é?  Ficar bonito! – Falei sorrindo meio sem graça.
- Não, eu quis dizer que estão mais arrumados que o comum com o a palavra bonito... – Ele também estava um pouco sem graça.
- Eu sei, relaxa. – Tentei deixar ele menos tenso.
De repente chegou um amigo dele, bem daqueles caras com pinta de galinha, e disse:
- Fala Marcolino, nem apresenta as amigas não é? – Cara muito cara de pau...
- Sophia, Cristiano, Cristiano Sophia, estão apresentados. – Parece que o Marcos não curtiu esta interrupção.
- Muito prazer gata.
- Valeu. ( Eu não sabia quem estava mais sem graça, se era eu ou o Marcos).
Acho que a Duda sentiu o cheiro do meu constrangimento e me chamou naquele momento.
- Licença aqui gente. – Fiquei aliviada por sair daquela situação.
- Nossa, adivinhou que eu estava louca para sair dali? – A Duda sorriu como se me conhecesse a mil anos e disse:
- É, tenho bola de cristal.
- E trouxe a festa? – Continuei a piadinha.
- Foi necessário, a exemplo dessa situação. – Rimos juntas...
Como um flash o Roni apareceu e nos puxou para dançar uma música que ele amava, de um filme antigo, mas na versão de Black Eyed Peas, chamada The Time. Logo começamos a dançar, dando gargalhadas.
Quando a música acabou eu voltei a consciência de onde estava e quando me virei ajeitando o cabelo como sempre, me deparei com o olhar do Enzo, meio diferente, uma expressão de dúvida e de interesse ao mesmo tempo. Apenas consegui sustentar aquele olhar por 3 segundos e pareceu uma eternidade, eu tinha que ir ao banheiro.
Ao mesmo tempo que eu me preocupava em fugir logo para respirar, sem pressão, eu me preocupava com o quanto isso demonstrava a minha covardia, só foi um olhar diferente do comum, eu nem tinha certeza de nada... Enfim, cheguei no banheiro, me tranquei lá por alguns minutos, respirei, pensei e me repeti “não significou nada” várias vezes, após isto, sair do banheiro e me bati com o Marcos.
- Eu estava lhe procurando.
- Fiz falta? – Não vou negar que fiquei feliz por alguém estar sentindo minha falta, me procurando, era novo para mim.
- Fez falta sim, não é sempre que eu tenho a oportunidade de me aproximar, na verdade é a primeira vez, eu pensei em ficar quieto, só conversar contigo se você puxasse assunto, mas ao mesmo tempo pensei que esta poderia ser uma rara chance sabe, oportunidade de encontrar você assim... Vem comigo.
As palavras dele não me deram muitas alternativas, eu realmente não saberia como recusar esse convite, então fui com ele. Fomos para a outra parte da festa, eu não tinha visto ainda lá tinha um karaokê, duas garotas estavam cantando a música do seu lado de Jota Quest, eu estava até curtindo.
- Vamos ser os próximos? – Será que ele estava falando sério? Eu pirei.
- Está louco? Eu não sei cantar e mesmo se soubesse teria a maior vergonha. – Fui totalmente sincera.
- Por favor Sophia, você está linda e além do mais estaremos juntos, quero que você faça algo diferente, que seja surreal e que lembre de mim todas as vezes que recordar disto.
Quando notei as meninas já tinham acabado de cantar, o apresentador estava perguntando quem seriam os próximos e o Marcos acenou, pegou na minha mão e me puxou em direção ao palco, eu fiquei vermelha da cor do meu vestido, era uma mistura de nervosismo, vergonha e raiva, sim, raiva dele por estar me arrastando ao maior mico da minha vida.
Quando chegamos ao palco ele escolheu a música garganta de Ana Carolina, me deu um dos microfones, chegou ao meu ouvido e sussurrou:
- Cante naturalmente, tente passar as pessoas que você estar tranquila, á vontade, mico só é mico se perceberem que você está constrangida, se estiver bem, ninguém te dirá o contrário.
Eu estava brava, aos poucos fui levantando o meu olhar que anteriormente estava voltado para o chão e cinco segundos foi o tempo que tive até a música começar, mas eu tinha conhecimento que por mais chateada que eu estivesse, as suas ultimas palavras eram consideráveis e que eu teria que ser muito atriz para fingir estar tranquila neste palco.
Então a música começou, e que música, mesmo muito chateada devo admitir que ele acertou em cheio. Depois que eu já estava de cabeça erguida, fixei o meu olhar nele, a única pessoa que me transmitia confiança naquele momento, por incrível que pareça.
Tentando não desmaiar, levantei o microfone e comecei a cantar nesse trecho da música “Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso,tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar”
Não posso negar, a música e o olhar dele me deixou distraída, me deixou á vontade, e quando percebi a galera já  estava batendo palmas, curtindo a música, ali não tinha ninguém da escola onde eu estudava e isso era uma sorte e tanta. Quando a música acabou nos aplaudiram, acho que mais pela música que pela nossa voz não tão boa, digamos que não passamos vergonha, mas também não fomos excelentes. Ao descermos do palco um casal já estava subindo e ninguém ficou reparando na gente, me senti aliviada por isso.
- Eu vou lhe matar – Fui sincera, foi um susto e tanto.
- Não gostou?
- Gostei, mas não da forma como me puxou e além do mais poderíamos ser vaiados.
- Você se preocupa muito com os outros e acaba se limitando bastante por isto.
Fiquei calada por alguns instantes, não havia argumento, ele estava certo e nem precisou de muito tempo comigo para perceber isto.
- É, digamos que ás vezes eu exagero, eu gostei, foi muito louco, mas nunca mais me assuste dessa forma.
- Se não fosse assim você não toparia.
Dei uma gargalhada, ele também, pois nós dois sabíamos que ele estava certo.
Estávamos nos entendendo quando o Enzo nos interrompeu:
- Cara, preciso roubar esta mocinha, minha mãe faz questão de um álbum com todos os amigos e só falta você Soh. – Não entendi porquê ele me chamou de Soh, pareceu que ele queria mostrar ao Marcos uma intimidade que não tínhamos realmente, mas logo tirei da cabeça, não valia a pena ficar me consumindo com isso.
- Ah fotos, odeio, mas irei tirar, por minha tia, deixo bem claro.
- Depois nos falamos então. – Disse o Marcos.
Enquanto eu o acompanhava o Enzo perguntou:
- Tá rolando alguma coisa entre vocês? – Fiquei intrigada com a pergunta.
- Vocês quem?
- Você e o Marcos.
- Não... Ainda estamos nos conhecendo.
- E tem alguma chance de rolar?
- Ele é um cara muito legal.
Era a única coisa que eu poderia dizer naquele momento.
Quando chegamos onde o fotografo estava tiramos três fotos, com pouses diferentes. A  primeira estávamos lado a lado, com a mão um no ombro do outro, a segunda foto, nós dois fazendo careta e a terceira... Foi estranho.
- E agora? Como será a foto?
- Que tal eu lhe dando um beijo na testa? – Achei muito estranho.
- É, como eu te conheço a muito tempo, desde pirralha, acho que devo lhe proteger, sei lá, agora vendo você assim...
- Assim como?
- Como uma mulher, me dei conta que mais do que nunca devo lhe proteger. –  Logo me dei conta que minha missão de fazê-lo me ver como mulher tinha sido cumprida com sucesso.
- Então vamos tirar logo essa foto.
- Vamos.
Concordei em tirar a foto da maneira que ele sugeriu apesar de estar surpresa com o comentário dele me proteger, cada dia o Enzo me trazia uma coisa, parecia até de propósito, só para me deixar confusa, mais confusa.
Tiramos a foto e aproveitei para me despedi, já era tarde.
- Irei procurar Duda e Roni para irmos, já é tarde.
Eram duas da manhã.
- Por mim vocês ficariam mais.
Eu dei um sorriso meio sem graça, dei um beijo na bochecha dele e disse:
- Mais uma vez feliz aniversário, se cuida.
Assim me despedi e fui procurar Roni e Duda, para a minha sorte eles também estavam me procurando, nos encontramos rápido.
- Ô Badalada, custou te encontrar hein?! – Disse o Roni.
- Badalada? – Sorri, só poderia ser piada.
- Gente, eu estou morrendo de sono e cansada, vamos? – Falou a Duda já desanimada de tão exausta.
- Também, só dava você na pista de dança. – Tive que largar essa, o Roni adorou e deu uma gargalhada.
- Pode ir rindo Roni, mas ao menos eu só dancei, me divertir, ao contrário de você que ficou com a filha da madrinha do aniversariante. – Não foi surpresa para mim o Roni ter ficado com alguém, mas olhamos uns pros outros e caímos na gargalhada.
- Mas as aventuras do Roni não altera que queremos de você  uma redação com o título “o que eu fiz durante a festa do Enzo” tá bom Sôsô?
Eu fiz uma careta e sorri em seguida.
- É concordo, nós queremos. – Disse o Enzo.
Eu já deveria ter acostumado, esses dois sempre brigam, mas quando se unem é para me azucrinar!
- Estar certo, amanhã no facebook conto tudo e também quero saber cada detalhe de vocês também.
Agora estávamos esperando o pai de Duda nos buscar, rindo uns dos outros, cansados e morrendo de sono. Eu não encontrei o Marcos para me despedir, mas alguma coisa me dizia que eu o veria logo.

Capítulo 7- Uma boa surpresa

No dia seguinte acordei por volta das quinze horas, fui me cuidar, tomar banho, escovar os dentes, trocar a roupa, enfim, cumprir protocolos matinais. Depois de cumprir tais tarefas, vi que minha mãe tinha deixado um bilhete " Sophia, fui passear com umas amigas que acabaram de retornar a cidade, o almoço está pronto, te amo." 
Então almocei, aproveitei o fato de estar sozinha em casa para colocar música alta, e fui pro facebook, o Roni e a Duda já estavam lá, inclusive conversando no nosso grupo sobre a festa.
Eu entrei, dei um oi e logo contei tudo o que aconteceu, os olhares do Enzo, o Karaokê com o Marcos, o fato do Enzo ter dito que vai cuidar de mim, falar tudo isso foi horrível e meio ridículo, mas eu tinha que descarregar aquelas emoções em alguém. A Duda contou que realmente dançou bastante e que alguns desconhecidos chegaram nela, mas que foram dispensados, enfim, a festa para ela foi avaliada como legal e nao não teve ninguém que chamou a sua atenção, digamos que a Duda era bem exigente. Diferente do Roni, que ficou mesmo com a filha da madrinha do Enzo, ele contando foi muito engraçado, a menina deixou o brilho cair, então ele pegou, ela abriu um sorriso para ele, que retribuiu com um olhar 43 e tudo mais que poderia retribuir, resultado, acabaram aos beijos na pista de dança.
Depois de saber das novidades fui assistir tv, merendar, minha mãe chegou, fomos assistir um filme juntas e depois fui dormir, afinal haveria aula no dia seguinte.
De manhã o despertador tocou e eu fui colocando na soneca até me atrasar e ter que levantar pulando da cama para tentar chegar na escola a tempo. Cheguei cinco minutos atrasada, entrei rápido na sala torcendo para o professor de história não reparar, ele sempre soltava uma piadinha para quem chegasse atrasado e dessa vez não foi diferente, já que ele notou a minha rápida entrada. As aulas foram legais exceto a de história, não necessariamente por conta da aula ou do assunto, mas porque eu fiquei constrangida depois do comentário do meu professor "Eita gente que dorme", eu sempre levei as coisas muito a sério, mesmo sendo somente um comentário...
 No intervalo como de costume eu e a Duda fomos no banheiro, olhar o cabelo, falar besteiras (tudo de muito feminino que o Roni não poderia ouvir), mas dessa vez ao invés de falarmos, escutamos algumas garotas comentarem de um cara novo que chegou na escola. Olhamos uma para a outra através do espelho e saímos morrendo de curiosidade, percorremos toda a escola e não encontramos ninguém, estávamos voltando para a sala frustradas até que a Duda deixou o livro de geografia cair,o que esquecemos de devolver na biblioteca por conta da história do novato, mas para a nossa surpresa quem estava vindo do mesmo corredor que a gente e pega o livro da Duda?
O próprio garoto, eu nem acreditei.
Bem branco, olhos castanhos, cabelo castanho e um óculos quadrado bem charmosinho, ele era bem bonitinho mesmo, comparado ao que nós tínhamos estava acima da média.
Ele pegou o livro e devolveu a Duda junto a um sorriso encantador, eu vi as pernas dela tremerem.
- Obrigada, tenho o dom de derrubar e tropeçar em tudo.
Ele continuou com um sorriso aberto.
- Normal, eu sou do terceiro ano B, acabei de chegar mas não estou encontrando a minha turma, podem me ajudar?
- Claro, nossa aula deve ter acabado de começar, alguns minutinhos não nos fará tão mal.- Respondi, antes que a tola da Duda recusasse a ficar algum tempo do lado dele, além do mais as outras garotas iriam pirar, ao nos ver com o gatinho.
Com a minha confirmação Duda não teve muita reação, seguimos em frente até a sala dele que era ao lado da nossa.
- Essa é a sua turma. - Disse Duda.
- Valeu meninas, vocês são que ano?
- Terceiro A, essa sala ao lado. Nossa esqueci meu livro em cima da mesa da biblioteca, Duda me espera rapidinho para entrar na sala, vou correndo buscar. - Dei um jeito de sair de cena e deixar os dois lá, mas iria ser por pouco tempo, filar aula não é a nossa cara, fiquei uns 5 minutos na biblioteca e voltei.
- Vamos? - Disse Duda quando me avistou.
- Vamos, no fim das contas nem foi lá que esqueci o livro, mais tarde irei procurar melhor.- Disfarcei.
-  Boa aula e que achem o livro. - Ele foi gentil.
Entramos na sala sem problemas pelo atraso, até porque a professora de química sabia que não era de costume acontecer isso.  O Roni chegou na escola muito mais atrasado que nós na aula de química  e eu estava morrendo de curiosidade para saber como foram os cinco minutos de Duda com o gatinho, mas me segurei e prestei atenção na aula, a final quando acabasse eu iria querer detalhe por detalhe, sem contar que o Roni vai saber também e com toda a certeza fará a maior pressão.

                                         Capítulo 8 - Tentativa de Encontro

Quando acabou a aula, além de faminta eu estava ansiosa, sou curiosa e tenho certeza que pintou um clima com Duda e o novato. - E aí Duda conta! - Ela sorriu como se eu fosse uma retardada da quinta série.- O que você acha que poderia ter rolado? Um beijo de cinema após 5 minutos de diálogo? - Olhei para ela com feição de decepção, não por conta do beijo, mas porque também não era isso, eu apenas queria saber se ele demonstrou algum interesse inicial por ela.- E aí chatas, já fiz o slide do seminário de geografia, mandei ontem para o email das duas, não precisa mais encher meu saco.- Disse  Roni quando se aproximou.- Finalmente né, o seminário é depois de amanhã. A Sophia está aqui me importunando só porque me deixou sozinha alguns minutinhos com um novato que chegou hoje na escola.- Duda, eu vi a tua cara de "Nossa como ele é Gato." quando ele abriu um sorriso.- Quando eu terminei a frase o Roni deu uma gargalhada que não nos permitiu outra coisa a não ser rir com ele.- Agora me digam como vocês encontraram e falaram  com o cara do nada. - Disse o Roni.A Duda contou como tudo aconteceu, e Roni completou:- Sim minha filha, e quando vocês ficaram sozinhos, falaram o quê? Pare de suspense idiota, senão eu não conto quem encontrei hoje.- Todo bruto esse menino. - Duda reclamou e continuou:- Ele me perguntou se a escola era legal, eu falei que mais ou menos, "é relativo", aí ele olhou para mim, deu um sorriso e disse que já estava começando a gostar ,eu fiquei super sem graça...Somente isso, satisfeitos?- Nossa, então ele já ficou interessado em você, e pelo visto você nele. - Estava na cara.- É, ele é interessante, mas agora conta de você Roni. - A Duda nunca gostou de falar de coisas sentimentais, principalmente quando ela é o sujeito da história .- Eu liguei para a garota da loja que compramos o vestido da Duda. A gente marcou um cinema no próximo fim de semana.- Espero que você termine a sua parte do trabalho de Ed.física antes disto, lembre que o nosso tema é obesidade na infância. - Eu tinha que lembrá-lo, só faltava uma semana para a apresentação. - Deixa de ser chata, eu me garanto. - Ele odiava ser cobrado, mas se não fosse assim esquecia de tudo.- Acho que essa garota é louca. - Duda falou provocando.- Louca não, ela quer aproveitar o melhor da vida, ou seja, o Roninho aqui. - Convencido? Será? Eu larguei um sorriso bem irônico.- Ah, tá certo Roninho. - Disse Duda ironizando, assim como eu com o meu sorriso.  Estávamos na porta da escola quando  avistei o Marcos, fiquei um pouco surpresa ao perceber que ele estava a me esperar, afinal o único contato que tivemos além de cumprimentos foi no aniversário do Enzo, não havia tanta intimidade. Quando ele me avistou deu um sorriso, Duda e Roni logo também perceberam que ele estava me esperando, mas deixaram os comentários para uma próxima ocasião,  eu que me preparasse.- Oi. - Falei retribuindo o seu sorriso lindo. Será que eu tô ficando louca ou acabei de achar lindo o sorriso do Marcos? Que loucura, de repente muitos pensamentos me tomaram.- Eu faço curso meio perto daqui, aí decidi te ver e já que vou para casa do Enzo pensei em voltar contigo.- Claro, vamos juntos! - Agora para mim ficou provado que ele não tinha problema em demonstrar que estava afim de mim.    Apresentei  Roni e  Duda a ele e fomos conversando até o ponto em coisas bobas como bandas preferidas, comida, piadinhas sem graça... De repente estávamos entrosados e rindo. Quando chegamos no ponto, nosso ônibus logo chegou.Sentamos um ao lado do outro, eu abri a janela para que o vento entrasse e fiquei meio sem graça, sei lá, agora sozinhos, eu particularmente não tinha assunto...-  Eu quero lhe fazer um convite... - Ele disse meio sem jeito.- Convite? Pra mim? - Cada vez mais  me surpreendia.- É, tem uma peça maravilhosa  estreando na cidade e eu pensei em irmos... Na verdade eu quero lhe conhecer melhor. - Esse choque de sinceridade foi demais para mim.- A ideia do teatro é ótima, mas fico temerosa quanto a esse conhecer melhor... É que para mim somos recentes colegas entende? - Fui sincera.- Entendo, eu na verdade sempre te achei bonita, mas não me aproximava para saber se por dentro era assim também e no aniversário do Enzo tomei essa coragem, não irei dá para trás sabe, eu não quero nada além da sua amizade.- Quando eu já estava respirando fundo de alívio ele acrescentou:- Por enquanto. - E novamente eu já não sabia o que fazer... Ele estava deixando claro seu interesse por mim, algo que não era correspondido, mas ao mesmo tempo dá um fora e me negar a conhecê-lo não seria correto, como eu disse a algum tempo, cansei de esperar o Enzo, é muito desgastante você viver esperando alguém que mal te olha, e quando parece que olha, deixa subjetivo, confuso... O Marcos era o contrário, claro, objetivo, eu sentia firmeza.- Então convite aceito, só é me dizer o dia e o horário. - Não deixei transparecer a confusão que estava a minha mente naquele momento, apenas aceitei o convite.Enfim chegou  o nosso ponto, descemos e caminhamos até a minha rua, o Enzo estava na porta de casa falando ao celular, quando nos aproximamos ele desligou.- Boa tarde. - Eu cumprimentei.- Boa tarde Sophia, minha tia está aqui Marcos. - Enzo respondeu.- É eu sei, ela me avisou, parece que daqui ela e minha tia vão sair, vim ficar aqui para não ficar sozinho em casa. - Respondeu o Marcos.- Gente, vou seguir aqui viu, tô morrendo de fome, irei almoçar e fazer as tarefas. - Realmente eram muitas tarefas.- Está certo, a peça é sábado 19 horas, podemos ir juntos?- Claro,por mim está marcado. - Confirmei.A cara do Enzo foi de surpreso, mas surpresa mesmo foram suas palavras seguintes:- Nossa, tem um tempão que não vou ao teatro, vocês irão tipo... Um casal? - Eu fiquei vermelha e o Marcos para a minha surpresa parecia tranquilo, - Como assim? - Perguntamos. Nos fizemos de confusos, mas eu realmente não esperava essa pergunta, insinuação, ou o que for.- Ah gente, vocês entenderam, estou perguntando se esta saída é como um encontro romântico.- Na verdade não, é somente para prestigiarmos a peça, me disseram que era boa, então chamei a Sophia.- É, que ideia Enzo... Amigos só saem juntos se for num encontro romântico?- Não né? Então irei com vocês e a gente resenha! - Eu nem acredito que ele fez isso.- Claro, irei chamar o Roni e a Duda, vou para casa agora, estou morta de fome! - Fingi que  achei tudo isso normal, mas vi que o Marcos ficou um pouco desapontado.- Levo você até a sua porta. - Disse o Marcos.- Tchau. - Foi assim que o Enzo se despediu.Quando chegamos em minha porta ele perguntou:- Você entendeu alguma coisa?- Não e você? - Eu respondi.- Não e sinceramente não gostei, mas falei a verdade sobre o encontro não é?- Eu percebi que você não gostou muito..Mas gostei que foi sincero, depois que irmos com a galera marcamos novamente, mas em segredo dessa vez. - Será que fui muito ousada? Estranho... Saiu naturalmente, sem tremedeira, acho que saber que ele gosta de mim me deixa menos insegura.- Me deixou feliz agora, acho que saí no lucro. - Ele disse isso com um sorriso enorme no rosto, que acabou contagiando, quando percebi eu também estava sorrindo.- Vou entrar agora, tchau. - Com um abraço nos despedimos e eu entrei.Foi estranho me ver passar por esta situação e não ter tremido na base, vi o Enzo e não fiquei parecendo uma bobona, tudo isto sem ensaiar...Não deixei de gostar dele ainda, mas já consigo ver outras possibilidades, aliás outra possibilidade que se chama Marcos, este cada vez mais me surpreende. Agora só me resta aguardar o dia de sairmos, só assim poderei ver no que vai dar esse espetáculo.

Capítulo 09- O mundo Gira. 

Depois que marcamos, fiquei pensativa... Como seria isso? Enzo e Marcos, juntos, no teatro.  E melhor, de repente eu estava me sentindo incomodada com a presença de Enzo.
 Com o Marcos eu não ensaio, não me preocupo em ser descolada, andar correto, não falar besteira.. Seria mais fácil. Mas Enzo, me puxa a uma cobrança, como se ele fosse muito bom, muito melhor que eu. 
 Pensar nestas coisas separadas dava um nó, juntas então.. 
 Quando contei, chamei, os palhaços (Duda e Roni), caíram na risada. Como já era esperado.  Que situação viu!
 Os dias se passaram e meus pensamentos continuaram em função disto. 
 Escutei alguém batendo na porta, mas era cedo, quem seria?
 - já vai! 
 - Cheguei!
 - Duda? Já? 
 - Lógico. Ou você acha que irá se arrumar sozinha? Sendo que os dois estarão lá.
 Comecei a rir, eu não estava preocupada com isso. 
 - Vou com esse vestido e uma sandália baixa. - Apontei para a roupa. - Duda fez uma cara de quem não estava entendendo nada. E ela não estava mesmo, nem eu.
 - Pirou de vez né? Esse vestido a gente vai na casa do Roni estudar, sei lá. Mas não sair com  Enzo. Imaginou quantas garotas vão estar lá, olhando pra ele, bem melhores?
 - Imaginei, mas Enzo não gosta de mim, pode ser que esteja com ciúme, porque enfim a bobona aqui, iria sair com outra pessoa, mas não porque me acha incrível, diferente, especial... Como eu sempre quis. 
 Tá decidido, irei com esse vestido, não vou ensaiar nada e acabou. Posso até pensar muito nele, me arrepender por isso, morrer de raiva quando ver meninas bem mais bonitas e arrumadas. Mas tô convencida de que nada que eu faça trará ele como eu gostaria.
- Tá bom bobona, eu nem vou com ninguém, mas vou bonita, glamourosa, vai que tenha um super gato na fila, sozinho, indo assistir a peça para distrair, aí eu estou de costas e viro então nossos olhos se cruzam, sorrimos... - Ah não, essa até eu interrompi.
- Vamos parando de sonhar, certo?
- Foi mal, mas pareceu você viajando. - Ela disse rindo bastante.
- Ha ha ha. Sonho com coisas mais possíveis que isso. Você forçou muito aí.- A gente tava no meu quarto, sem tv, som, computador... Nada ligado e estávamos rindo, nos divertindo, somente com a presença uma da outra. Acho que isso deve ser a tradução da Amizade.
- Vai se arrumar, besta. 
 Quando eu estava semi-arrumada, só faltando maquiagem, alguém bate.
- É o Roni, deixa que eu abro.
- Êaa chatonas! É aqui o ponto de partida da pegação? Onde vale até uma com dois? 
- Êaa, aqui mesmo, Uma com dois e muita gente sem nenhuma.  - Borrei a maquiagem, porque não contive minha gargalhada, com a ironia da Duda.
- Gente, os meninos irão passar aqui logo logo, vamos tentar parecer normais pelo menos?
- Por mim, tudo bem. Mas acho pedir muito da capacidade mental de Roni.
A porta bateu, roni fez cara de maluco e disse: - Chegaram... Muhahaha.
- Vou abrir. - Credo, meu estômago doeu, meu coração não batia mais, ele disparava!
Abri a porta, dei de cara com o Enzo, olhando para mim, com um sorriso de canto, aqueles lábios... Um olhar que me desconcertava. Ao lado dele, o Marcos, com um sorrisão aberto, sinceramente, poucos sorrisos eram como aquele, eu me perdia com tanta doçura.
- Vamo? - Disse o Enzo.
- Sim, estamos prontos!
-  Tá bonitona hein! Oi Duda, Roni, prontos também?
Roni cochichou em meu ouvido. - Bem mais educado esse daí.
- Estamos prontos, vambora. Disse Duda.
- Partiu, programa cultura!  Chegando lá vamos tirar uma foto para postar, tenho muitas ficantes que curtem ida ao teatro, essas paradas. - Todos rimos. Eu reclamo e fico oprimindo, mas acho a sinceridade do Roni incrível. Muita gente por muitos momentos pensam como ele, inclusive eu, mas não falamos. Além disso, o ato dele falar tudo o que pensa, sem filtros, mostra que conosco está a vontade, pra largar suas piores bobagens, acho que a tradução disso é confiança.
Fomos assistir a peça, no ônibus sentei perto da Duda, para não correr o risco de ficar entre a cadeira do Enzo e de Marcos, idiota né? Eu sei. Mas no meu lugar, nesta situação, acho que muita gente pensaria nisso.
Chegando no teatro a peça já ia começar, sentamos eu, ao meu lado o Marcos, depois Enzo, Duda e Roni.
Durante a peça, rimos muito, tinha um personagem que era a cara do Roni, um tipo engraçadinho de filho, que sempre acabava levando bronca da mãe, que parecia a Duda, e tinha uma tia toda iludida, que os lerdos diziam ser eu, enfim, valeu muito a pena.
Os meninos (Enzo e Marcos) riram muito também. O Marcos foi maravilhoso, realmente prestou atenção na peça e não tentou nada, exatamente como disse que seria.
Quando terminou fomos fazer um lanche, rimos bastante, comentando a peça e tudo mais. Eu sentia que o Enzo estava observando, pela primeira vez, prestando atenção no meu jeito, no que eu dizia, pena que foi fazer isso num momento em que eu não tinha ensaiado nada pra ele. Na verdade, pra ninguém, cansei de ensaios.
No ônibus, fui ao lado do Marcos, Duda e Roni e o Enzo sozinho.
- Gostou mesmo da peça? - Perguntou Marcos.
- Gostei, sério, não viu como eu ri? Parecendo uma louca.
- É, parecia mesmo viu. - Rimos juntos.
- Não te assustei com tanta loucura? -Perguntei, puxando saber, o que ele realmente achou de mim, dos meus amigos..
- Não, o que me assusta é uma coisa diferente... 
- O quê?
- Gostar de você, cada vez mais a medida que vou te conhecendo. Me assusta.
Dei um sorriso de canto, gostei muito de ouvir isso. Principalmente porque não forcei, porque me arrumei da forma que eu queria, porque lá havia várias garotas lindas, bem arrumadas e aquelas palavras estavam sendo ditas a mim.
O Roni e a Duda desceram em pontos diferentes. Restamos nós três no ônibus. Depois do Marcos ter me deixado sem graça, puxei novamente um assunto sobre a peça e seguimos falando nisso até o nosso ponto. 
- Chegamos. Você vai dormir na casa do Enzo? - Perguntei.
- É, eu vou.
Seguimos até nossa rua.
- Abre aí que eu vou até aqui a frente da casa de Sophia.
- Tchau Enzo. - Ele disse tchau e me deu um beijo na testa, pegando em minha mão. Fiquei sem graça e desci com o Marcos.
Quando chegamos na frente da minha casa, eu não sabia o que fazer e pela primeira vez fiquei nervosa com o Marcos.
- Gostei de ter ido, gostei até da presença de todo mundo. Cara, Roni e Duda são uma comédia!
- Eu também gostei, são loucos mesmo e valeu por chamar..
- Vem aqui, chega mais perto. -  Não pensei, só fui. Me aproximei, e olhe pra ele, que me encarava, parecia estar buscando minhas reações, sondando meus pensamentos.
- Sim, diga. - Estávamos próximos, um olhando pro outro.
Nos beijamos.

Capítulo 10 - Inusitado

Depois do beijo me senti liberta, em parte meu coração estava ligado ao Enzo, mas entendi que viver outras coisas também faz bem. Saí com Marcos outras vezes e virou uma amizade colorida... As vezes ele falava em transformarmos isso em algo sério, mas eu desconversava. Qual a diferença?  Dizer, me intitular como sua namorada? Não precisamos de nenhum tipo de posse, nos queremos bem e isso basta.
O tempo foi passando, vestibular chegando e eu voltando pro Ballet!  Na verdade  me afastei apenas para descansar um pouco, pois não estava dando conta, mas fiz Ballet desde os 5 anos de idade e retornando a dançar percebi o quanto me faz bem, me faz esquecer as paranoias e dançar, apenas dançar. Percebi que a dança faz toda a diferença na minha vida e esse tempo foi necessário para que eu pudesse perceber isso, que dançando eu encontro o meu ponto de equilíbrio.
Para faculdade escolhi nutrição, pesquisei e fiz aqueles testes vocacionais que todo mundo sempre faz, optei por isso. Desejo trabalhar principalmente com crianças, mostrá-las que existem coisas melhores que fast-food, não que eu também não goste, mas por entender que não podem virar hábito, nem unica fonte de prazer na vida.
Duda e Roni  irão juntos optar por direito. Ela porque sempre sonhou e ele que de tanto a ouvir falar sobre, acabou se interessando.
Enzo me viu andando com Marcos algumas vezes, o clima foi ficando estranho, fui percebendo Enzo se afastar... Como se não quisesse ver. Mas como entender? Por tanto tempo eu quis, eu ainda quero... Nossos olhos não se cruzam como antes, eu já não espero nada e ele não me olha mais como uma irmã, amiga de infância, ele apenas acena rápido, abaixa o olhar e desvia do meu caminho. Mas antes de abaixar o olhar, num rápido intervalo de tempo, seus olhos se expressam.. Me perguntam o que estou fazendo e porque não declaro tudo o que sinto.
Então meu olhar se desvia também respondendo... Desculpe Enzo, mas eu já tentei demais lhe dizer.
Estou confusa, faltam apenas três meses para o vestibular e um congresso de dança muito importante se aproxima, a professora de ballet vai levar nossa turma, é uma oportunidade única mas... O vestibular!
Sei que estou me preparando a algum tempo, mas minha mãe tem receio de que eu me disperse completamente, acho que também tenho.
Aliás, o medo de enfrentar a consequência de minhas escolhas é sempre meu pior problema.
- Alô, Duda. Preciso conversar... Posso ir até aí?
- Claro, algo grave?
- Não, acho que me decidi sobre a questão do congresso.
- Vem logo, vou fazer chocolate. Ah, e Roni tá jogando futebol com a galera, vou nem ligar.
- Certo, chego aí depois do ballet.
Me arrumei, prendi o cabelo e fui dançar. Mais uma vez saí grata da aula de dança por me permitir pensar livre, em meio aos movimentos.
Quando terminei de me trocar, a professora veio até mim...
- Sophia, você tem dois dias para decidir sobre sua ida ao congresso.
- É, eu sei Liza, até já tenho uma resposta. - A responsabilidade caía sobre meus ombros..
- Espero que me dê uma boa notícia, você é uma das melhores aqui, dança com a alma. Não desperdice essa oportunidade, agarre.
Ela apenas disse e se retirou, eu digeri tudo e segui rumo a casa de Duda.
- E aí, conta, decidiu o que?
- Eu vou.
- Finalmente! E o vestibular?
- Um mês passa rápido e eu estudei ao longo desse ano, quando voltar ainda terei dois meses, dou um bom gás e acho que não me prejudico. Você acha o que?
- Claro que acho que você deve ir. Só te vejo completamente bem quando está dançando. Nem a platéia lhe mete medo! - Duda falava com tanto orgulho de mim que me comovia.
- Ah, claro que dá medo! Só que eu me concentro tanto nos movimentos que esqueço a presença de tanta gente olhando.
- Podemos fazer uma despedida?
- Menina, não vou me casar , nem mudar, é apenas um mês fora e depois tudo volta a ser como antes.
- Eu sei, mas acho despedidas bonitas...
- Falar em coisa bonita...Cadê o novato? - Ela ficava sem graça...
- Lá vem...A gente conversa por whats, mas tem muitas garotas afim dele, tô procurando não criar expectativas, minhas chances são poucas. Só que de qualquer jeito, ele vai estar na sua despedida. - Ela pode ser pessimista, mas é esperta.
- Sendo assim, teremos festinha! Agora preciso ir, contar para minha mãe, ligar pro meu pai, Roni, Marcos... Muita coisa a se fazer.
- Tchau, vê se não desiste.
Sim, eu já tenho uma decisão e uma festa de despedida! É inacreditável que eu insisto em enrolar com as coisas, mas elas sempre tendem a acontecer na velocidade da luz para mim.
Antes de ir pra casa lembrei de passar na livraria. Se vou viajar posso ao menos escolher um romance, literatura para ler, estão sempre caindo nos vestibulares.
Logo escolhi meu livro entre tantos que me seduziam naquelas estantes. Quando venho a este lugar, me dou conta do quanto ainda tenho a conhecer e de que nunca vou conhecer tudo. Mas o que eu não esperava seria encontrar o Enzo sentado numa das mesas, com um livro na mão e já me observando.
Se bem que não é tão improvável vê-lo estudando, ele estava tentando medicina pela segunda e ultima vez, se não passar, fará farmácia .
Fui até ele sorrindo e disse:
- Estudando!
- Não que eu goste... Como você. Mas, você vai agora?
- É, só vim levar este aqui.
- O cortiço, já li. Te dou uma carona, tô com o carro do meu pai.
- Também já li, irei reler. Mas não precisa, continue estudando. - Eu não queria atrapalhar.
- Ah, sério Sôsô? Só porque não me chamo Marcos não aceita a carona? - Senti a provocação e funcionou.
- Palhaço, então vamos.
Rimos e saímos da livraria.
Ao entrarmos no carro fiquei tensa, o silêncio reinava, até que falei:
- Vou passar um mês fora do estado.
- Sério? - Ele parecia realmente surpreso.
- Sim, um congresso de dança no Sul.
- Marcos que me perdoe, mas você fica linda dançando. - Ele falou sem dirigir o olhar a mim, olhando para frente e dirigindo.
- Eu não sou namorada de Marcos. - Falei virada na direção dele e depois direcionei meu olhar pra janela.
Então ele respondeu, meio desaforado.
- Agem como se fosse.
- Você está com ciúme? - Não exitei em dizer, já me silenciei com  muitas coisas e só agora venho me sentindo mais livre, menos presa dos meus próprios julgamentos. Talvez as circunstâncias me ajudaram, a omissão do Enzo, a relação com Marcos, minhas conversas com amigos, me sinto bem melhor em falar o que penso sem culpa.
- Ciúme? Nunca fui nada seu ! - As palavras dele me cortaram por dentro, apesar de ser uma verdade e de eu já ter me conformado. Mas por que ficar nessas provocações então? - Devolvi com meu silêncio em todo o restante do caminho.
Quando chegamos, tudo o que eu queria era uma breve despedida, arrumar rapidamente a minha mala e sumir.
- Valeu pela carona - Falei friamente. - Quando eu ia abrindo a porta ele me puxou pelo braço e me beijou.
Alguém entendeu isso? Eu não compreendia nada, nem o que ele fez, muito menos eu, que correspondi ao beijo mesmo chateada. Não raciocinava em meio aquele beijo, o cheiro, o calor.. Sonhei tantas vezes  com isso e agora que eu não esperava mais acontece. Parecia brincadeira, o destino querendo brincar de me deixar confusa.
Passamos um tempo nos beijando, sem dizer nada, apenas curtindo os lábios um do outro, ele beijava meu pescoço, me arrepiando, isso cada vez ficava melhor de experimentar.
Até que ele parou e disse:
- Entra comigo? Estão viajando, por isso o carro está comigo.
E agora? Era perfeito mas eu não sabia o que fazer, a que parte de mim ouvir. Só tinha certeza de que perto dele não controlo meus pensamentos, nem meu corpo. 


 Capítulo 11 - Saindo do Casulo. 

Era o que eu sempre esperei que estava acontecendo, como eu poderia ser covarde e recuar? Por que eu faria isso?
Ligeiramente me fiz essas perguntas e em seguida entrei com ele, que me tomou pela cintura e começou a beijar meu pescoço como se percorresse um caminho com seus lábios, o caminho do céu, do prazer que eu sentia ao me arrepiar.
- Quer uma água, um suco? - Ele sessou os beijos e foi educado.
- Não. - E retornei a beija-lo, como se dissesse, " agora só quero você. "
Ele entendeu, fomos cegos pro quarto, um pelo outro. Ali fiquei tensa, mesmo morrendo de vontade.
Será que ele não percebeu que eu era virgem? Será que isso vai quebrar o clima ? Que ele vai me achar criança demais? Deu nó, parei tudo e fui sincera:
- Pera, eu sou virgem.
- sério?
- Sério, por quê?
- Nada, se você quiser a gente para, ou fica só nisso.
- E se eu quiser ir além?
- A gente vai.- Quando ele falou isso meu coração acelerou, olhei dentro dos olhos dele, consentindo tudo, tirei a blusa e fiquei de sutiã.
Aos poucos fui relaxando, com as carícias, os beijos, o contato. Me vi perdida, entregue apenas a aquele momento, como se não existisse mais nada, nem o antes, nem o depois.
Tiramos toda a roupa, cravei minhas unhas nos braços dele como se descontasse a dor que eu estava sentindo. Mas que estranho, eu não queria que acabasse...
Ele sussurrava coisas em meu ouvido que me transformavam , eu esquecia dor, virgindade, viagem e tudo mais.
A dor foi sendo esquecida, ficando apenas uma sensação nova, acho que chamam isso de  prazer.
Ficamos agarrados,um dentro do outro por algum tempo. Até que uma sensação de satisfação completa nos tomou e paramos para descansar.
Foi bem diferente do que eu imaginava, não vi estrelas, nem corações... Houve dor, suor, tensão e risos. Foi diferente, estranho, mas foi maravilhoso.
- Não sei o que dizer. - Eu estava deitada sobre o peito dele, de olhos fechados.
- Nem eu. - Ele parecia sincero.
- Posso tomar um banho? - Eu precisava sair dali e pensar sobre tudo.
- Sim, vai indo que já levo toalha.
Levantei, me cobrindo toda com o lençol e fui me arrastando para o banheiro, como se ele ainda não tivesse visto tudo.
Tomei um banho gelado, mas meus pensamentos pareciam não estar funcionando direito, não chegando a nenhuma conclusão. Só de que eu precisava pensar mais!
Quando saí do banho ele ainda estava deitado, de braços cruzados. Fixou seu olhar em mim dizendo:
- Foi muito bom pra mim.
- Foi pra mim também. - Mas e agora? Como seria daqui pra frente? Era só nisso que eu pensava.
- Não se preocupa que não falarei nada pro Marcos. - Isso me irritou muito.
- Eu não traí Marcos, não tenho nada a esconder porque não sou namorada dele. Já lhe expliquei isso várias vezes, mas acho que não adianta. - Depois de tudo o que tivemos, ele estava preocupado apenas em esconder o fato. Ou seja, pra ele eu continuava a ter algo com Marcos... Sem levar em consideração a possibilidade de termos algo eu e ele. Pra quê decepção maior?
Peguei minha bolsa, meu livro e saí sem dizer mais nada.
O que eu não esperava era que ao chegar no portão, daria de cara com o Marcos.
E agora?





Capítulo 12 -Perdida

- Que surpresa! - Ele parecia curioso, porém feliz ao me ver.
- Exagero, sou vizinha daqui. - desconversei, como se não tivesse importância a minha presença ali.
- Como se você saísse da toca. - Ele riu com os olhos fixos em mim.
- Recebi uma carona do seu primo vindo da biblioteca e ficamos de papo. - Falei de forma descontraída, eu não queria que ele percebesse meu desconforto. Depois eu poderia até contar, se quisesse, mas ainda estava tudo muito confuso, foi muito instantâneo.
- Ah... Hoje eu vou dormir aqui, amanhã tem futebol cedo e aqui fica mais perto pra mim.
- Que coragem ! Boa sorte amanhã.
Quando eu estava saindo lembrei que ele ainda não tinha ideia da viagem, nem de nada, eu o devia uma conversa franca, dei meia volta e o convidei pra sair.
- Preciso conversar com você, já que você está aqui pode ser hoje a noite?
- Alguma coisa muito séria? - Senti uma ruguinha de preocupação nele.
- Não, coisas minhas que quero compartilhar com você, relaxe. - Tentei tranquilizá-lo.
- Que honra! Quer ir no cinema? A gente pode conversar, depois assistir um filme... - Ele não perdia uma oportunidade e isso de certa forma me lançava pra ele. É sempre muito bom ver alguém fazendo imensa questão de nossa companhia, engrandece o ego.
- Ótima ideia! Agora vou indo. - Essa foi a hora que Enzo apareceu e eu aproveitando a situação me despedi com um beijo no rosto de Marcos.
Ao chegar em casa, fui tomar um banho, pensar em tudo o que eu tinha feito, estava fazendo e iria fazer. Mas algo estava mais que decidido, a viagem, apesar de estar em tantos conflitos comigo mesma, com meu coração, nada melhor que sair do script, respirar outros ares e tentar me livrar dessa angústia.
Me enrolei numa toalha, peguei meu caderno de anotações e fiz esse poema:

Deriva

As coisas fluem como água,
Não me permitem a segurança,
Me deixam agoniada,
Sem a esperança,
De que um dia eu possa segura-las,
Que um dia eu possa acordar,
Sabendo realmente o que esperar,
Desses meus dias.

Me vejo perdida,
Por vezes dolorida,
mexida, ferida,
Não sei explicar,
Não consigo decifrar,
Meu corpo insiste em lembrar,
Em animar, em reviver,
Parece que vou enlouquecer.

Entre o certo e o errado,
Difícil é permanecer centrado,
Complicado definir,
O que pode, e como não se deve agir,
O que nos faz bem,
para futuramente machucar,
E o que nos dói hoje,
Mas que é sacrifício para um bem que me fará.

Não é fácil,
Administrar o corpo e a mente,
Não é fácil,
Trocar o arrepio porque não é conveniente,
Não é fácil,
Dizer não ao coração,
Estou a deriva,
Não sei dizer não pra emoção.

Capítulo 12 
D.R - Hora da verdade.

Enfim chegou a hora, não dava mais pra ficar agindo com o Marcos como se nada tivesse acontecido, algo mudou dentro de mim, passei por um momento que vai ficar marcado a minha vida toda e não posso continuar agindo normalmente, por mais que eu não me exponha, não devo deixar ele continuar apostando todas as suas fichas.
Coloquei um short jeans com uma blusa preta folgada, amarrei o cabelo, passei um batom rosa e calcei uma sapatilha, pronto!
Tentei não pensar no Enzo, por mais que seja triste, devo me preocupar com quem se importa comigo e esse não é o caso dele.
Quando cheguei no shopping Marcos já estava a minha espera, não vou negar que deu vontade de assistir o filme, falar da viagem e fugir, mas não dava, o meu conforto significaria uma futura decepção pra ele.
- Oi - Ele sorriu, nem imaginando o que vinha por aí.
- Oi, demorei? - Sorri um pouco desajeitada.
- Não, só um pouquinho, o tempo certo pra me dar fome! - Rimos juntos.
- Então vamos comer, aproveitamos e conversamos.
Era incrível que mesmo estando desconfortável, eu não ficava nervosa, não do lado dele. Por mais que eu soubesse que a conversa seria complicada e que eu corria sérios riscos de perdê-lo, do seu lado não dava pânico, nem nesta situação.
Pedi um sanduíche com milk-shake e ele hambúrguer com refrigerante. Assim que fizemos os pedidos, como um sapato apertado que a gente fica louco pra tirar, eu desejava desabafar logo.
- A conversa que eu quero ter, diz respeito a duas coisas bem complicadas pra mim... - Eu disparei, e me vi tão frágil abrindo as verdades e com elas minhas incertezas, que me voz parecia nem querer sair.
- Fiquei preocupado, mas pode falar, prometo tentar entender, seja o que for. - Ele realmente não esperava o que estava por vir.
- Vou falar logo, são duas coisas, a primeira é que eu vou para um congresso de dança em outro estado passar alguns meses e isso já está decidido. A segunda é que eu acho melhor nós pararmos de ficar, não por conta da viagem apenas, mesmo sem ela eu iriamos ter essa conversa, é melhor porque eu não estou me sentindo pronta, aberta, para gostar de você como você merece e acho injusto, você sendo maravilhoso comigo e eu lhe dando apenas pouco de mim. Acho, na verdade, que ninguém merece isso. - Ele me olhava parecendo prestar bastante atenção em cada coisa que eu dizia e eu ficava cada vez mais agoniada por não perceber nenhuma expressão sua.
- Acabou?
- Sim. - Eu já não conseguia falar mais nada.
- Acho que você não deu uma chance de verdade, não sei por qual motivo, mas eu entendo, se mudar de ideia eu vou tá sempre aqui. Sobre a viagem, acho que você poderia ter dito antes... Me pegar de surpresa assim, já com tudo decidido... Eu sei que não temos nada sério, mas pow... Eu gosto de você e você sabe disso, poderia já ter comentando antes, ter tido mais consideração.
- Eu sei que não foi certo, estou super triste, mas essa decisão foi algo que pensei praticamente sozinha, é como se eu finalmente quisesse tomar minhas próprias decisões, pensando em cada consequência, em tudo o que irei assumir e nessa confusão mental acabei sendo egoísta, desculpa...
- Tudo bem, relaxe. - "Relaxe" era bem típico do Marcos numa momento desses.
- Mas quero lhe perguntar só uma coisa.
- O quê?
- Você não gosta de mim porque não está aberta para isso ou você já gosta de alguém? - Agora sim eu não sabia o que dizer, como não mentir sem magoá-lo?


CAPÍTULO 13
D.R - Hora da verdade.

Enfim chegou a hora, não dava mais pra ficar agindo com o Marcos como se nada tivesse acontecido, algo mudou dentro de mim, passei por um momento que vai ficar marcado a minha vida toda e não posso continuar agindo normalmente, por mais que eu não me exponha, não devo deixar ele continuar apostando todas as suas fichas.
Coloquei um short jeans com uma blusa preta folgada, amarrei o cabelo, passei um batom rosa e calcei uma sapatilha, pronto!
Tentei não pensar no Enzo, por mais que seja triste, devo me preocupar com quem se importa comigo e esse não é o caso dele.
Quando cheguei no shopping Marcos já estava a minha espera, não vou negar que deu vontade de assistir o filme, falar da viagem e fugir, mas não dava, o meu conforto significaria uma futura decepção pra ele.
- Oi - Ele sorriu, nem imaginando o que vinha por aí.
- Oi, demorei? - Sorri um pouco desajeitada.
- Não, só um pouquinho, o tempo certo pra me dar fome! - Rimos juntos.
- Então vamos comer, aproveitamos e conversamos.
Era incrível que mesmo estando desconfortável, eu não ficava nervosa, não do lado dele. Por mais que eu soubesse que a conversa seria complicada e que eu corria sérios riscos de perdê-lo, do seu lado não dava pânico, nem nesta situação.
Pedi um sanduíche com milk-shake e ele hambúrguer com refrigerante. Assim que fizemos os pedidos, como um sapato apertado que a gente fica louco pra tirar, eu desejava desabafar logo.
- A conversa que eu quero ter, diz respeito a duas coisas bem complicadas pra mim... - Eu disparei, e me vi tão frágil abrindo as verdades e com elas minhas incertezas, que me voz parecia nem querer sair.
- Fiquei preocupado, mas pode falar, prometo tentar entender, seja o que for. - Ele realmente não esperava o que estava por vir.
- Vou falar logo, são duas coisas, a primeira é que eu vou para um congresso de dança em outro estado passar alguns meses e isso já está decidido. A segunda é que eu acho melhor nós pararmos de ficar, não por conta da viagem apenas, mesmo sem ela eu iriamos ter essa conversa, é melhor porque eu não estou me sentindo pronta, aberta, para gostar de você como você merece e acho injusto, você sendo maravilhoso comigo e eu lhe dando apenas pouco de mim. Acho, na verdade, que ninguém merece isso. - Ele me olhava parecendo prestar bastante atenção em cada coisa que eu dizia e eu ficava cada vez mais agoniada por não perceber nenhuma expressão sua.
- Acabou?
- Sim. - Eu já não conseguia falar mais nada.
- Acho que você não deu uma chance de verdade, não sei por qual motivo, mas eu entendo, se mudar de ideia eu vou tá sempre aqui. Sobre a viagem, acho que você poderia ter dito antes... Me pegar de surpresa assim, já com tudo decidido... Eu sei que não temos nada sério, mas pow... Eu gosto de você e você sabe disso, poderia já ter comentando antes, ter tido mais consideração.
- Eu sei que não foi certo, estou super triste, mas essa decisão foi algo que pensei praticamente sozinha, é como se eu finalmente quisesse tomar minhas próprias decisões, pensando em cada consequência, em tudo o que irei assumir e nessa confusão mental acabei sendo egoísta, desculpa...
- Tudo bem, relaxe. - "Relaxe" era bem típico do Marcos numa momento desses.
- Mas quero lhe perguntar só uma coisa.
- O quê?
- Você não gosta de mim porque não está aberta para isso ou você já gosta de alguém? - Agora sim eu não sabia o que dizer, como não mentir sem magoá-lo?

Capítulo 14
Coragem

- Como assim, alguém? - Sabe quando você entende mas prefere fingir que não? Foi exatamente isso.
- Alguém, se você na verdade já gosta de algum cara e por isso não conseguiu gostar de mim. - Por trás daquela capa inocente o Marcos era mais sagaz do que eu imaginava.
- Ah, eu já gostei de uma pessoa mas nunca deu em nada demais e se você não se importasse, não gostaria de falar disso, é algo que passou pra mim e que não desejo lembrar.
- Tudo bem. - Ele estava irritado a ponto de desistir de saber sobre qualquer coisa que me envolvesse, ficou claro, foi estranho, uma sensação de perda, perda de um laço bom.
- Não tem mais clima pra cinema né? - Falei super sem graça.
- Acho que não, mas se você quiser, por mim tudo bem.
- Não, acho que a gente não tá com cabeça pra filme. - Olhei pro chão enquanto ele desviava o máximo que podia os olhos de mim.
- Então vamos embora? - Levantamos e fomos pra casa.
O caminho foi regado a silêncio e comentários sobre escola, tempo, música e tudo mais que nos distanciasse do assunto "nós", senti que era uma despedida.
Ele me acompanhou até em casa e se despediu com um beijo na testa.
- Tudo de bom pra você - Foi frio, mas esperado.
- Obrigada e... Desculpa. - Devolvi o beijo na bochecha.
Entrei em casa sentida, mas aliviada, era hora de fazer as malas, não só da viagem, mas também do coração, talvez dar um tempo é tudo o que eu precise fazer agora, e não é por covardia que estou me dando esta fuga, se retirar muitas vezes é questão de inteligência. Por alguns momentos, não, por quase todos os momentos, pensei que nunca iria passar, o amor platônico pelo Enzo, minha timidez e... Nada disso  passou, está tudo aqui, igual, ou pior, mais confuso, muito mais confuso, mexi, saí da casca, por um minuto, coloquei o rosto na luz e bastou. A diferença agora, é saber que vai passar, incomodar sempre vai, mas agora a questão é seguir e seguir é um ato grande de coragem.