Enfim
chegou o fim de semana e eu não sabia se isso era motivo de alegria ou
desespero, se bem que mesmo estando um pouco insegura, a sensação de que chegou
a hora era boa, prefiro que seja logo, sou muito ansiosa, mesmo que nada saia
como planejei, me sentirei melhor depois.
Refleti
um pouco, coloquei as minhas músicas preferidas no PC e fui me arrumar,
combinei de rachar um táxi com Duda e Roni, e também combinamos de ninguém se
atrasar. Tomei um banho gostoso, passei meu hidratante corporal mais cheiroso,
me vesti, penteei o cabelo, coloquei uma passadeira nele com uma borboleta
prateada linda, escovei os dentes, usei enxaguante bucal, me maquiei, passei
desodorante, perfume e calcei o sapato, acabei!
Agora
estou pronta, fui na sala e a minha mãe quase pirou.
-Nossa como está linda filha, espera, vou pegar a câmera, tirar uma foto e
mandar para o teu pai. – Ainda bem que mais ninguém estava ouvindo isso.
Meu
pai estava viajando, alguma coisa a trabalho, mas mantinha o contato todos os
dias.
-
Ah mãe, para né, vai me atrasar. – Mesmo falando isso eu sabia que ela iria
tirar a foto de qualquer forma.
Quando
o táxi chegou a Duda e Roni já estavam lá dentro, me despedi da minha mãe e
entrei, estávamos nervosos, festas, pessoas, isso tudo não fazia parte da nossa
rotina. Percebendo isso, a Duda mexeu um minutinho no celular e colocou uma
música para tocar, e adivinha qual foi? Então, foi gangnam style, nossa! Por
essa eu não esperava, nem o Roni esperava, pouco tempo depois a gente estava
dançando a toda a coreografia de Psy, nem percebemos que estava chagando, e
depois tomamos um susto com as palavras do taxista:
-
O endereço do convite é este, chegaram.
Gelamos
e seguimos até a festa.
Parecia
estar tudo rodando quando cheguei, luzes e pessoas, algumas conhecidas, outras
não, o Roni estava surpreendente, ficou até bonitinho, de camisa polo verde
combinando com seus olhos, calça jeans e tênis, seu cabelo era crespo, pele
morena clara, o Roni parecia uma mistura de negro com imigrante europeu, e as
meninas raramente resistiam a suas investidas, mesmo ele sendo infantil e bobo,
só quem realmente o conhecia éramos nós, eu e Duda, e os pais dele, eu acho.
A
Duda estava linda, com uma camiseta regata dourada e uma saia preta cintura
alta, além da sapatilha também dourada combinando com a camiseta é claro.
E
eu com o vestido vermelho, um salto alto preto e a minha tiara prata de
borboleta.
Chagamos
com toda a classe, o Roni no meio e eu e a Duda de cada lado dele. Assim que
adentramos na sala de festas todos ao nosso alcance nos olharam, não sei se era
porque eu estava diferente ou se achavam estranho o Roni sendo acompanhado por
duas garotas relativamente bonitinhas. Fiquei extremamente envergonhada, mas
pela primeira vez fiz questão que ninguém percebesse isso.
Enquanto
eu estava distraída tentando disfarçar os olhares de todos, o Enzo se
aproximava, ele estava lindo, com um casaco branco, se destacando na sua pele
negra, combinando com seus olhos e com seu cabelo negro arrepiado, junto ao
casaco uma calça jeans preta e um tênis branco. Ele se aproximava com um
sorriso lindo, o mais lindo que já vi em toda a minha vida.
-
Nossa, o trio chegou arrebentando!
-
Como sempre. – o Roni não deixava passar um momento de mostrar o quanto ele era
convencido.
-
Só não entendi o motivo de tantos olhares vindos a nossa direção. – Mesmo sem
querer parecer insegura tive que comentar.
- As
pessoas são curiosas, olham para tudo fora do comum, você está diferente
Sophia, e se brincar você e Duda são as mais bonitas da festa.
Então
se aproximou uma prima que o Enzo se envolvia nas horas vagas, com um vestido
curto, colado, lilás e um salto plataforma prateado, loira de olhos azuis. O
que foi o bastante para a Duda dizer:
-
Mais bonitas? Só que não.
Eu
que não queria bancar a boba, sair dali antes mesmo que a garota chegasse até
nós, fui em direção ao Marcos, o primo do Enzo que era meio afim de mim.
-
Oi Sophia!
-
Oi Marcos – Dá vergonha quando estamos falando com alguém que gostamos, ou que
sabemos que gosta da gente...
-
Fiquei com vergonha quando te vi.
-
Por quê? O que te fiz?- Pensei que ele já tinha descoberto que eu já sabia da
quedinha dele por mim.
-
Vocês estão tão arrumados, bonitos, e eu aqui!
-
Quê isso, você estar super bem, e de vez em quando temos que mudar um pouco não
é? Ficar bonito! – Falei sorrindo meio
sem graça.
-
Não, eu quis dizer que estão mais arrumados que o comum com o a palavra bonito...
– Ele também estava um pouco sem graça.
-
Eu sei, relaxa. – Tentei deixar ele menos tenso.
De
repente chegou um amigo dele, bem daqueles caras com pinta de galinha, e disse:
-
Fala Marcolino, nem apresenta as amigas não é? – Cara muito cara de pau...
-
Sophia, Cristiano, Cristiano Sophia, estão apresentados. – Parece que o Marcos
não curtiu esta interrupção.
-
Muito prazer gata.
-
Valeu. ( Eu não sabia quem estava mais sem graça, se era eu ou o Marcos).
Acho
que a Duda sentiu o cheiro do meu constrangimento e me chamou naquele momento.
-
Licença aqui gente. – Fiquei aliviada por sair daquela situação.
-
Nossa, adivinhou que eu estava louca para sair dali? – A Duda sorriu como se me
conhecesse a mil anos e disse:
-
É, tenho bola de cristal.
-
E trouxe a festa? – Continuei a piadinha.
-
Foi necessário, a exemplo dessa situação. – Rimos juntas...
Como
um flash o Roni apareceu e nos puxou para dançar uma música que ele amava, de
um filme antigo, mas na versão de Black Eyed Peas, chamada The Time. Logo
começamos a dançar, dando gargalhadas.
Quando
a música acabou eu voltei a consciência de onde estava e quando me virei
ajeitando o cabelo como sempre, me deparei com o olhar do Enzo, meio diferente,
uma expressão de dúvida e de interesse ao mesmo tempo. Apenas consegui
sustentar aquele olhar por 3 segundos e pareceu uma eternidade, eu tinha que ir
ao banheiro.
Ao
mesmo tempo que eu me preocupava em fugir logo para respirar, sem pressão, eu
me preocupava com o quanto isso demonstrava a minha covardia, só foi um olhar
diferente do comum, eu nem tinha certeza de nada... Enfim, cheguei no banheiro,
me tranquei lá por alguns minutos, respirei, pensei e me repeti “não significou
nada” várias vezes, após isto, sair do banheiro e me bati com o Marcos.
-
Eu estava lhe procurando.
-
Fiz falta? – Não vou negar que fiquei feliz por alguém estar sentindo minha
falta, me procurando, era novo para mim.
-
Fez falta sim, não é sempre que eu tenho a oportunidade de me aproximar, na
verdade é a primeira vez, eu pensei em ficar quieto, só conversar contigo se
você puxasse assunto, mas ao mesmo tempo pensei que esta poderia ser uma rara
chance sabe, oportunidade de encontrar você assim... Vem comigo.
As
palavras dele não me deram muitas alternativas, eu realmente não saberia como
recusar esse convite, então fui com ele. Fomos para a outra parte da festa, eu
não tinha visto ainda lá tinha um karaokê, duas garotas estavam cantando a
música do seu lado de Jota Quest, eu estava até curtindo.
-
Vamos ser os próximos? – Será que ele estava falando sério? Eu pirei.
-
Está louco? Eu não sei cantar e mesmo se soubesse teria a maior vergonha. – Fui
totalmente sincera.
-
Por favor Sophia, você está linda e além do mais estaremos juntos, quero que
você faça algo diferente, que seja surreal e que lembre de mim todas as vezes
que recordar disto.
Quando
notei as meninas já tinham acabado de cantar, o apresentador estava perguntando
quem seriam os próximos e o Marcos acenou, pegou na minha mão e me puxou em
direção ao palco, eu fiquei vermelha da cor do meu vestido, era uma mistura de
nervosismo, vergonha e raiva, sim, raiva dele por estar me arrastando ao maior
mico da minha vida.
Quando
chegamos ao palco ele escolheu a música garganta de Ana Carolina, me deu um dos
microfones, chegou ao meu ouvido e sussurrou:
-
Cante naturalmente, tente passar as pessoas que você estar tranquila, á
vontade, mico só é mico se perceberem que você está constrangida, se estiver
bem, ninguém te dirá o contrário.
Eu
estava brava, aos poucos fui levantando o meu olhar que anteriormente estava
voltado para o chão e cinco segundos foi o tempo que tive até a música começar,
mas eu tinha conhecimento que por mais chateada que eu estivesse, as suas
ultimas palavras eram consideráveis e que eu teria que ser muito atriz para
fingir estar tranquila neste palco.
Então
a música começou, e que música, mesmo muito chateada devo admitir que ele acertou
em cheio. Depois que eu já estava de cabeça erguida, fixei o meu olhar nele, a
única pessoa que me transmitia confiança naquele momento, por incrível que
pareça.
Tentando
não desmaiar, levantei o microfone e comecei a cantar nesse trecho da música “Atravesso
o travesseiro, te reviro pelo avesso,tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar”
Não
posso negar, a música e o olhar dele me deixou distraída, me deixou á vontade,
e quando percebi a galera já estava
batendo palmas, curtindo a música, ali não tinha ninguém da escola onde eu
estudava e isso era uma sorte e tanta. Quando a música acabou nos aplaudiram,
acho que mais pela música que pela nossa voz não tão boa, digamos que não
passamos vergonha, mas também não fomos excelentes. Ao descermos do palco um
casal já estava subindo e ninguém ficou reparando na gente, me senti aliviada
por isso.
-
Eu vou lhe matar – Fui sincera, foi um susto e tanto.
-
Não gostou?
-
Gostei, mas não da forma como me puxou e além do mais poderíamos ser vaiados.
-
Você se preocupa muito com os outros e acaba se limitando bastante por isto.
Fiquei
calada por alguns instantes, não havia argumento, ele estava certo e nem
precisou de muito tempo comigo para perceber isto.
-
É, digamos que ás vezes eu exagero, eu gostei, foi muito louco, mas nunca mais
me assuste dessa forma.
-
Se não fosse assim você não toparia.
Dei
uma gargalhada, ele também, pois nós dois sabíamos que ele estava certo.
Estávamos
nos entendendo quando o Enzo nos interrompeu:
-
Cara, preciso roubar esta mocinha, minha mãe faz questão de um álbum com todos
os amigos e só falta você Soh. – Não entendi porquê ele me chamou de Soh,
pareceu que ele queria mostrar ao Marcos uma intimidade que não tínhamos
realmente, mas logo tirei da cabeça, não valia a pena ficar me consumindo com
isso.
-
Ah fotos, odeio, mas irei tirar, por minha tia, deixo bem claro.
-
Depois nos falamos então. – Disse o Marcos.
Enquanto
eu o acompanhava o Enzo perguntou:
-
Tá rolando alguma coisa entre vocês? – Fiquei intrigada com a pergunta.
-
Vocês quem?
-
Você e o Marcos.
-
Não... Ainda estamos nos conhecendo.
-
E tem alguma chance de rolar?
-
Ele é um cara muito legal.
Era
a única coisa que eu poderia dizer naquele momento.
Quando
chegamos onde o fotografo estava tiramos três fotos, com pouses diferentes.
A primeira estávamos lado a lado, com a
mão um no ombro do outro, a segunda foto, nós dois fazendo careta e a
terceira... Foi estranho.
-
E agora? Como será a foto?
-
Que tal eu lhe dando um beijo na testa? – Achei muito estranho.
-
É, como eu te conheço a muito tempo, desde pirralha, acho que devo lhe
proteger, sei lá, agora vendo você assim...
-
Assim como?
-
Como uma mulher, me dei conta que mais do que nunca devo lhe proteger. – Logo me dei conta que minha missão de fazê-lo
me ver como mulher tinha sido cumprida com sucesso.
-
Então vamos tirar logo essa foto.
-
Vamos.
Concordei
em tirar a foto da maneira que ele sugeriu apesar de estar surpresa com o
comentário dele me proteger, cada dia o Enzo me trazia uma coisa, parecia até
de propósito, só para me deixar confusa, mais confusa.
Tiramos
a foto e aproveitei para me despedi, já era tarde.
-
Irei procurar Duda e Roni para irmos, já é tarde.
Eram
duas da manhã.
-
Por mim vocês ficariam mais.
Eu
dei um sorriso meio sem graça, dei um beijo na bochecha dele e disse:
-
Mais uma vez feliz aniversário, se cuida.
Assim
me despedi e fui procurar Roni e Duda, para a minha sorte eles também estavam
me procurando, nos encontramos rápido.
-
Ô Badalada, custou te encontrar hein?! – Disse o Roni.
-
Badalada? – Sorri, só poderia ser piada.
-
Gente, eu estou morrendo de sono e cansada, vamos? – Falou a Duda já desanimada
de tão exausta.
-
Também, só dava você na pista de dança. – Tive que largar essa, o Roni adorou e
deu uma gargalhada.
-
Pode ir rindo Roni, mas ao menos eu só dancei, me divertir, ao contrário de
você que ficou com a filha da madrinha do aniversariante. – Não foi surpresa
para mim o Roni ter ficado com alguém, mas olhamos uns pros outros e caímos na
gargalhada.
-
Mas as aventuras do Roni não altera que queremos de você uma redação com o título “o que eu fiz durante
a festa do Enzo” tá bom Sôsô?
Eu
fiz uma careta e sorri em seguida.
-
É concordo, nós queremos. – Disse o Enzo.
Eu
já deveria ter acostumado, esses dois sempre brigam, mas quando se unem é para
me azucrinar!
-
Estar certo, amanhã no facebook conto tudo e também quero saber cada detalhe de
vocês também.
Agora
estávamos esperando o pai de Duda nos buscar, rindo uns dos outros, cansados e
morrendo de sono. Eu não encontrei o Marcos para me despedir, mas alguma coisa
me dizia que eu o veria logo.