Li esse conto de uma pessoa muito especial e foi amor à primeira vista. Espero que também se apaixonem por esses sentimentos.




Entre as respirações profundas que se seguiam a cada página terminada daquele fastidioso livro, ele aproveitava e olhava pela janela que ficava logo acima da sua bancada. Era pela centésima vez o mesmo céu, as mesmas estrelas, mas não se cansava dessa ser a sua primeira visão depois das letras emaranhadas daquele livro.
Quando já estava inebriado por todas aquelas palavras que nada mais lhe diziam, resolveu levantar e olhar pra baixo. Isso porque o céu, por mais lindo que estivesse, era quase que imóvel, assim como o livro que estava lendo. Ele precisava de movimento, distração, algo que fizesse a sua mente viajar.
Era sábado, movimento era a lei daquela rua. Tinham os bares, restaurantes, pizzarias e também uma pequena e aconchegante pracinha. Ele olhava para tudo, e começava a idealizar quantas histórias caminhavam por ali. Focou então em um casal que estava sentado em um dos banquinhos da praça. Olhava para cada carícia, cada beijo e arquitetava na sua imaginação diálogos super fofos que poderiam estar acontecendo entre aqueles dois. Quando percebeu que estava quase se tornando um voyeur desviou o olhar e voltou-se ao céu, aquele sem histórias, sem movimento, só que agora muito mais melancólico. Isso porque olhando para aquele casal, percebeu que nunca tinha sido amado.
Na sua cabeça, amar era transbordar, assim como aqueles dois na praça estavam transbordando, chamando a atenção, exalando um amor que alcançava até o “voyeur” do 5º andar. Ele tinha vivido algumas histórias, claro, mas tão efêmeras e vazias que suas testemunhas eram somente a escuridão do cinema, o ar quente de um carro com um bom fumê e os lençóis brancos de um hotel qualquer. Amores escondidos, limitados, enclausurados logo de início, talvez por isso nenhum tenha vingado. Percebeu que amor precisa de espaço, de liberdade, do céu como testemunha e às vezes até de um “voyeur”.
Queria culpar a sociedade, os políticos, a igreja, a moral, a família, tudo aquilo que não fosse ele. Culpou, culpou até que respirou bem fundo, bem fundo e voltou pra página 272.

Lucas Oliveira.



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