Coragem


- Como assim, alguém? - Sabe quando você entende mas prefere fingir que não? Foi exatamente isso.
- Alguém, se você na verdade já gosta de algum cara e por isso não conseguiu gostar de mim. - Por trás daquela capa inocente o Marcos era mais sagaz do que eu imaginava.
- Ah, eu já gostei de uma pessoa mas nunca deu em nada demais e se você não se importasse, não gostaria de falar disso, é algo que passou pra mim e que não desejo lembrar.
- Tudo bem. - Ele estava irritado a ponto de desistir de saber sobre qualquer coisa que me envolvesse, ficou claro, foi estranho, uma sensação de perda, perda de um laço bom.
- Não tem mais clima pra cinema né? - Falei super sem graça.
- Acho que não, mas se você quiser, por mim tudo bem.
- Não, acho que a gente não tá com cabeça pra filme. - Olhei pro chão enquanto ele desviava o máximo que podia os olhos de mim.
- Então vamos embora? - Levantamos e fomos pra casa.
O caminho foi regado a silêncio e comentários sobre escola, tempo, música e tudo mais que nos distanciasse do assunto "nós", senti que era uma despedida.
Ele me acompanhou até em casa e se despediu com um beijo na testa.
- Tudo de bom pra você - Foi frio, mas esperado.
- Obrigada e... Desculpa. - Devolvi o beijo na bochecha.
Entrei em casa sentida, mas aliviada, era hora de fazer as malas, não só da viagem, mas também do coração, talvez dar um tempo é tudo o que eu precise fazer agora, e não é por covardia que estou me dando esta fuga, se retirar muitas vezes é questão de inteligencia. Por alguns momentos, não, por quase todos os momentos, pensei que nunca iria passar, o amor platônico pelo Enzo, minha timidez e... Nada disso  passou, está tudo aqui, igual, ou pior, mais confuso, muito mais confuso, mexi, saí da casca, por um minuto, coloquei o rosto na luz e bastou. A diferença agora, é saber que vai passar, incomodar sempre vai, mas agora a questão é seguir e seguir é um ato grande de coragem.