Perdida

- Que surpresa! - Ele parecia curioso, porém feliz ao me ver.
- Exagero, sou vizinha daqui. - desconversei, como se não tivesse importância a minha presença ali.
- Como se você saísse da toca. - Ele riu com os olhos fixos em mim.
- Recebi uma carona do seu primo vindo da biblioteca e ficamos de papo. - Falei de forma descontraída, eu não queria que ele percebesse meu desconforto. Depois eu poderia até contar, se quisesse, mas ainda estava tudo muito confuso, foi muito instantâneo.
- Ah... Hoje eu vou dormir aqui, amanhã tem futebol cedo e aqui fica mais perto pra mim.
- Que coragem ! Boa sorte amanhã.
Quando eu estava saindo lembrei que ele ainda não tinha ideia da viagem, nem de nada, eu o devia uma conversa franca, dei meia volta e o convidei pra sair.
- Preciso conversar com você, já que você está aqui pode ser hoje a noite?
- Alguma coisa muito séria? - Senti uma ruguinha de preocupação nele.
- Não, coisas minhas que quero compartilhar com você, relaxe. - Tentei tranquilizá-lo.
- Que honra! Quer ir no cinema? A gente pode conversar, depois assistir um filme... - Ele não perdia uma oportunidade e isso de certa forma me lançava pra ele. É sempre muito bom ver alguém fazendo imensa questão de nossa companhia, engrandece o ego.
- Ótima ideia! Agora vou indo. - Essa foi a hora que Enzo apareceu e eu aproveitando a situação me despedi com um beijo no rosto de Marcos.
Ao chegar em casa, fui tomar um banho, pensar em tudo o que eu tinha feito, estava fazendo e iria fazer. Mas algo estava mais que decidido, a viagem, apesar de estar em tantos conflitos comigo mesma, com meu coração, nada melhor que sair do script, respirar outros ares e tentar me livrar dessa angústia.
Me enrolei numa toalha, peguei meu caderno de anotações e fiz esse poema:

Deriva

As coisas fluem como água,
Não me permitem a segurança,
Me deixam agoniada,
Sem a esperança,
De que um dia eu possa segura-las,
Que um dia eu possa acordar,
Sabendo realmente o que esperar,
Desses meus dias.

Me vejo perdida,
Por vezes dolorida,
mexida, ferida,
Não sei explicar,
Não consigo decifrar,
Meu corpo insiste em lembrar,
Em animar, em reviver,
Parece que vou enlouquecer.

Entre o certo e o errado,
Difícil é permanecer centrado,
Complicado definir,
O que pode, e como não se deve agir,
O que nos faz bem,
para futuramente machucar,
E o que nos dói hoje,
Mas que é sacrifício para um bem que me fará.

Não é fácil,
Administrar o corpo e a mente,
Não é fácil,
Trocar o arrepio porque não é conveniente,
Não é fácil,
Dizer não ao coração,
Estou a deriva,
Não sei dizer não pra emoção.

Um dia uma flor me contou que sensibilidade só alguns tem.
Quantos não retiram suas pétalas para jogarem ao léu?
Ela estava revoltada!
Dizia que contemplar sua beleza seria tão mais humano, sentir a maciez de cada pétala, o perfume...

Ah florzinha ! Não fica assim, uma hora aparece quem contemple seu jardim. - Falei pra ela.
Ela se tranquilizou, já não tinha mais o que fazer,
Pobre florzinha... Seu nome é emoção e seu endereço dizem que fica num tal bairro, chamado coração.

<3<3 - Essa vai pra quem tava com saudade dessas besteiras que escrevo e nunca posto, bjoos.