Codinome Beija-Flor


Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor


O mundo Gira. 


Depois que marcamos, fiquei pensativa... Como seria isso? Enzo e Marcos, juntos, no teatro.  E melhor, de repente eu estava me sentindo incomodada com a presença de Enzo.
 Com o Marcos eu não ensaio, não me preocupo em ser descolada, andar correto, não falar besteira.. Seria mais fácil. Mas Enzo, me puxa a uma cobrança, como se ele fosse muito bom, muito melhor que eu. 
 Pensar nestas coisas separadas dava um nó, juntas então.. 
 Quando contei, chamei, os palhaços (Duda e Roni), caíram na risada. Como já era esperado.  Que situação viu!
 Os dias se passaram e meus pensamentos continuaram em função disto. 
 Escutei alguém batendo na porta, mas era cedo, quem seria?
 - já vai! 
 - Cheguei!
 - Duda? Já? 
 - Lógico. Ou você acha que irá se arrumar sozinha? Sendo que os dois estarão lá.
 Comecei a rir, eu não estava preocupada com isso. 
 - Vou com esse vestido e uma sandália baixa. - Apontei para a roupa. - Duda fez uma cara de quem não estava entendendo nada. E ela não estava mesmo, nem eu.
 - Pirou de vez né? Esse vestido a gente vai na casa do Roni estudar, sei lá. Mas não sair com  Enzo. Imaginou quantas garotas vão estar lá, olhando pra ele, bem melhores?
 - Imaginei, mas Enzo não gosta de mim, pode ser que esteja com ciúme, porque enfim a bobona aqui, iria sair com outra pessoa, mas não porque me acha incrível, diferente, especial... Como eu sempre quis. 
 Tá decidido, irei com esse vestido, não vou ensaiar nada e acabou. Posso até pensar muito nele, me arrepender por isso, morrer de raiva quando ver meninas bem mais bonitas e arrumadas. Mas tô convencida de que nada que eu faça trará ele como eu gostaria.
- Tá bom bobona, eu nem vou com ninguém, mas vou bonita, glamourosa, vai que tenha um super gato na fila, sozinho, indo assistir a peça para distrair, aí eu estou de costas e viro então nossos olhos se cruzam, sorrimos... - Ah não, essa até eu interrompi.
- Vamos parando de sonhar, certo?
- Foi mal, mas pareceu você viajando. - Ela disse rindo bastante.
- Ha ha ha. Sonho com coisas mais possíveis que isso. Você forçou muito aí.- A gente tava no meu quarto, sem tv, som, computador... Nada ligado e estávamos rindo, nos divertindo, somente com a presença uma da outra. Acho que isso deve ser a tradução da Amizade.
- Vai se arrumar, besta. 
 Quando eu estava semi-arrumada, só faltando maquiagem, alguém bate.
- É o Roni, deixa que eu abro.
- Êaa chatonas! É aqui o ponto de partida da pegação? Onde vale até uma com dois? 
- Êaa, aqui mesmo, Uma com dois e muita gente sem nenhuma.  - Borrei a maquiagem, porque não contive minha gargalhada, com a ironia da Duda.
- Gente, os meninos irão passar aqui logo logo, vamos tentar parecer normais pelo menos?
- Por mim, tudo bem. Mas acho pedir muito da capacidade mental de Roni.
A porta bateu, roni fez cara de maluco e disse: - Chegaram... Muhahaha.
- Vou abrir. - Credo, meu estômago doeu, meu coração não batia mais, ele disparava!
Abri a porta, dei de cara com o Enzo, olhando para mim, com um sorriso de canto, aqueles lábios... Um olhar que me desconcertava. Ao lado dele, o Marcos, com um sorrisão aberto, sinceramente, poucos sorrisos eram como aquele, eu me perdia com tanta doçura.
- Vamo? - Disse o Enzo.
- Sim, estamos prontos!
-  Tá bonitona hein! Oi Duda, Roni, prontos também?
Roni cochichou em meu ouvido. - Bem mais educado esse daí.
- Estamos prontos, vambora. Disse Duda.
- Partiu, programa cultura!  Chegando lá vamos tirar uma foto para postar, tenho muitas ficantes que curtem ida ao teatro, essas paradas. - Todos rimos. Eu reclamo e fico oprimindo, mas acho a sinceridade do Roni incrível. Muita gente por muitos momentos pensam como ele, inclusive eu, mas não falamos. Além disso, o ato dele falar tudo o que pensa, sem filtros, mostra que conosco está a vontade, pra largar suas piores bobagens, acho que a tradução disso é confiança.
Fomos assistir a peça, no ônibus sentei perto da Duda, para não correr o risco de ficar entre a cadeira do Enzo e de Marcos, idiota né? Eu sei. Mas no meu lugar, nesta situação, acho que muita gente pensaria nisso.
Chegando no teatro a peça já ia começar, sentamos eu, ao meu lado o Marcos, depois Enzo, Duda e Roni.
Durante a peça, rimos muito, tinha um personagem que era a cara do Roni, um tipo engraçadinho de filho, que sempre acabava levando bronca da mãe, que parecia a Duda, e tinha uma tia toda iludida, que os lerdos diziam ser eu, enfim, valeu muito a pena.
Os meninos (Enzo e Marcos) riram muito também. O Marcos foi maravilhoso, realmente prestou atenção na peça e não tentou nada, exatamente como disse que seria.
Quando terminou fomos fazer um lanche, rimos bastante, comentando a peça e tudo mais. Eu sentia que o Enzo estava observando, pela primeira vez, prestando atenção no meu jeito, no que eu dizia, pena que foi fazer isso num momento em que eu não tinha ensaiado nada pra ele. Na verdade, pra ninguém, cansei de ensaios.
No ônibus, fui ao lado do Marcos, Duda e Roni e o Enzo sozinho.
- Gostou mesmo da peça? - Perguntou Marcos.
- Gostei, sério, não viu como eu ri? Parecendo uma louca.
- É, parecia mesmo viu. - Rimos juntos.
- Não te assustei com tanta loucura? -Perguntei, puxando saber, o que ele realmente achou de mim, dos meus amigos..
- Não, o que me assusta é uma coisa diferente... 
- O quê?
- Gostar de você, cada vez mais a medida que vou te conhecendo. Me assusta.
Dei um sorriso de canto, gostei muito de ouvir isso. Principalmente porque não forcei, porque me arrumei da forma que eu queria, porque lá havia várias garotas lindas, bem arrumadas e aquelas palavras estavam sendo ditas a mim.
O Roni e a Duda desceram em pontos diferentes. Restamos nós três no ônibus. Depois do Marcos ter me deixado sem graça, puxei novamente um assunto sobre a peça e seguimos falando nisso até o nosso ponto. 
- Chegamos. Você vai dormir na casa do Enzo? - Perguntei.
- É, eu vou.
Seguimos até nossa rua.
- Abre aí que eu vou até aqui a frente da casa de Sophia.
- Tchau Enzo. - Ele disse tchau e me deu um beijo na testa, pegando em minha mão. Fiquei sem graça e desci com o Marcos.
Quando chegamos na frente da minha casa, eu não sabia o que fazer e pela primeira vez fiquei nervosa com o Marcos.
- Gostei de ter ido, gostei até da presença de todo mundo. Cara, Roni e Duda são uma comédia!
- Eu também gostei, são loucos mesmo e valeu por chamar..
- Vem aqui, chega mais perto. -  Não pensei, só fui. Me aproximei, e olhe pra ele, que me encarava, parecia estar buscando minhas reações, sondando meus pensamentos.
- Sim, diga. - Estávamos próximos, um olhando pro outro.
Nos beijamos.